Uma descoberta recente feita pelo rover Curiosity, da NASA, pode mudar nossa compreensão sobre o passado de Marte — e sobre o potencial do planeta para abrigar vida, no passado ou no futuro.
Pesquisadores identificaram siderita, um carbonato de ferro presente em camadas ricas em sulfato do Monte Sharp, dentro da Cratera Gale, região estudada desde 2012. A presença desse mineral sugere que, em algum momento, Marte teve uma atmosfera densa e rica em dióxido de carbono, capaz de manter água líquida em sua superfície.
Por décadas, cientistas acreditaram que Marte já possuía lagos, rios e uma atmosfera espessa de CO₂, mas faltavam evidências minerais que confirmassem essa teoria. Os carbonatos deveriam ter sido formados quando a água e o gás reagiram com as rochas marcianas, mas missões anteriores e análises feitas por satélites não encontravam quantidades significativas desses compostos.
A identificação da siderita é a primeira evidência direta de que essa reação realmente aconteceu e de que o clima marciano foi, em algum momento, suficientemente quente e úmido para ser habitável.

Segundo Edwin Kite, professor associado de ciências geofísicas na Universidade de Chicago e coautor do estudo, a descoberta ajuda a entender por que Marte e Terra seguiram caminhos tão diferentes:
“A superfície da Terra foi continuamente habitável por 3,5 bilhões de anos, mas Marte evoluiu de um planeta potencialmente habitável para o cenário inóspito que vemos hoje. Esse achado nos aproxima de entender os mecanismos que levaram a essas trajetórias opostas.”
Como o Curiosity encontrou a evidência?
O Curiosity, que explora Marte desde 2012, utiliza um sistema de perfuração que coleta amostras a cerca de 4 centímetros de profundidade. O material é analisado pelo instrumento CheMin, que usa difração de raios X para identificar a composição química das rochas e solos.
Os dados foram obtidos a partir de três locais de perfuração diferentes e publicados em estudo na revista Science. O trabalho mostra que, mesmo em rochas próximas à superfície, ainda existem registros químicos que apontam para um Marte com condições propícias à vida há bilhões de anos.
Marte poderia ter abrigado vida?
Embora a descoberta não indique diretamente a presença de organismos, a detecção de carbonatos reforça a possibilidade de que condições habitáveis existiram. Somada a outras análises feitas pelo Curiosity, que já encontrou moléculas orgânicas e hidrocarbonetos de cadeia longa em amostras de rocha, a nova evidência amplia o debate sobre se a vida realmente surgiu no planeta vermelho.
Atualmente, a atmosfera marciana é fina, tóxica e incapaz de sustentar vida humana sem suporte tecnológico, mas a confirmação de um passado mais úmido e quente alimenta teorias sobre colonização futura e origens da vida no universo.