Hoje amplamente utilizado para transferências rápidas, gratuitas e seguras, o Pix transformou a rotina financeira do brasileiro desde que foi lançado em novembro de 2020. Porém, documentos internos do Banco Central (BC) revelam que o sistema já estava conceitualmente pronto em 2018, após anos de estudos e testes — e poderia ter chegado ao público muito antes.
O atraso não foi técnico, mas estratégico. Fontes ligadas ao projeto indicam que o BC decidiu adiar o lançamento para negociar padrões de segurança, integração com bancos e adesão de fintechs e varejistas, além de evitar choque com outras regulamentações que estavam sendo implementadas à época.
Como nasceu o sistema
O Pix foi idealizado pelo Banco Central como parte de uma estratégia para modernizar o sistema de pagamentos brasileiro, seguindo tendências globais como o UPI, da Índia, e o Venmo, dos Estados Unidos.
O projeto começou oficialmente em 2018, quando o BC montou um grupo de trabalho multidisciplinar com especialistas em tecnologia, economia e regulação. Também participaram bancos, fintechs e representantes do comércio, com o objetivo de garantir que a ferramenta atendesse a todos os perfis de usuários.
Segundo integrantes do grupo, o sistema estava “tecnicamente funcional” ainda em 2018, mas passou por dois anos de ajustes, sobretudo para consolidar a infraestrutura de segurança e permitir a adesão em larga escala pelas instituições financeiras.
Apesar de já operacional, o Pix precisou ser adiado para:
- Aprimorar as normas de segurança cibernética, em um momento de aumento de ataques digitais;
- Negociar com grandes bancos e fintechs, que pediram tempo para adaptar suas plataformas;
- Sincronizar com novas regulamentações financeiras, em especial relacionadas a dados e ao Open Banking, que começaria a ser implementado.
Fontes próximas ao Banco Central afirmam que havia também uma preocupação em evitar resistência dos grandes bancos, que temiam perder receitas com TEDs e DOCs — formatos que movimentavam bilhões em tarifas anuais.
Resultado: sucesso imediato em 2020
Quando finalmente lançado, em novembro de 2020, o Pix registrou adesão recorde: em apenas um ano, já superava as transferências via TED e DOC somadas, tornando-se o principal meio de pagamento instantâneo do país.
Hoje, com bilhões de transações realizadas mensalmente, o sistema é apontado como um dos principais marcos de inclusão financeira no Brasil, permitindo que milhões de pessoas movimentem dinheiro de forma rápida e sem custos, inclusive sem conta bancária tradicional.