O Brasil registrou mais de 701 mil internações por pneumonia em 2024, segundo dados do DataSUS, um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Especialistas alertam para a chamada pneumonia silenciosa, uma forma atípica da infecção que preocupa por seus sintomas discretos e evolução acelerada.
Ao contrário da pneumonia típica, que provoca febre alta, dor no peito e tosse produtiva, a pneumonia silenciosa pode se manifestar com febre baixa ou ausente, tosse seca persistente, cansaço e chiado no peito. Em crianças, pode causar falta de apetite e dificuldade para urinar; em idosos, se apresentar apenas como fraqueza ou confusão mental. Esses sinais, muitas vezes confundidos com gripe ou resfriado, atrasam o diagnóstico.
De acordo com a pneumologista Marcela Costa Ximenes, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), essa forma atípica não é uma doença nova, mas representa de 30% a 40% dos quadros de pneumonia registrados no país. Estima-se que ocorram de 1 a 4 casos assintomáticos para cada 1.000 pessoas.
Por que os surtos estão crescendo?
Segundo o pneumopediatra Luiz Vicente Ribeiro, do Hospital Israelita Albert Einstein, a recente alta de casos está ligada à circulação de bactérias como Mycoplasma e Chlamydophila, que se intensificou após a pandemia. Durante o isolamento social, as crianças ficaram menos expostas a vírus e bactérias, o que reduziu a imunidade coletiva.
Com o retorno às escolas e ambientes lotados, o contágio voltou a crescer. “Esses surtos devem persistir até que a população readquira resistência a esses microrganismos, especialmente nos meses de outono e inverno”, explica Ribeiro.
Diagnóstico, tratamento e prevenção
O diagnóstico geralmente envolve anamnese, ausculta pulmonar e radiografia de tórax. Exames laboratoriais como o PCR podem ser utilizados, mas não são rotina, já que o resultado raramente muda o tratamento.
O tratamento varia conforme o agente infeccioso. Antibióticos comuns, como penicilina, não funcionam contra a Mycoplasma sp., exigindo medicamentos como macrolídeos ou tetraciclinas. O acompanhamento médico é essencial para evitar complicações graves, como insuficiências renal e pulmonar, sepse, AVC e até encefalite.
Para prevenir a doença, especialistas recomendam:
- uso de máscara em locais lotados, especialmente hospitais e clínicas;
- higienização frequente das mãos com álcool em gel ou água e sabão;
- evitar contato com pessoas com sintomas gripais;
- vacinação pneumocócica para crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas (disponível pelo SUS).