O Brasil não está na rota dos furacões — fenômenos típicos dos oceanos Atlântico Norte e Pacífico que exigem ventos a partir de 119 km/h —, mas o ciclone extratropical que começou a se formar no Rio Grande do Sul neste domingo (27) está tão forte que pode ser comparado a um furacão de menor potência.
De acordo com a MetSul Meteorologia e a Climatempo, o fenômeno deve gerar rajadas de vento que podem chegar a 100 km/h em cidades de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, além de provocar ondas de até 3,5 metros no litoral.
Em São Paulo, a Defesa Civil emitiu alerta para toda a faixa Centro-Leste, incluindo a capital e a Grande São Paulo. Já a Marinha do Brasil alerta para ressaca entre Iguape (SP) e Macaé (RJ) até o dia 31 de julho.
Como o ciclone se formou?
O fenômeno surgiu a partir de uma baixa pressão atmosférica que atuava sobre o Rio Grande do Sul, com pressão inferior a 1.000 hPa — índice que já é considerado perigoso por gerar fortes diferenças de pressão em áreas pequenas, intensificando as rajadas de vento.

No domingo à noite, essa baixa pressão avançou para o Atlântico, na costa gaúcha, iniciando o processo de ciclogênese (formação do ciclone). Desde então, o sistema ganhou força, expandindo o campo de ventos intensos para o Leste de SC, PR e SP, chegando até parte do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Segundo meteorologistas, a situação é semelhante ao ciclone intenso de julho de 2023, que deixou oito mortos e provocou destruição em estados do Sul e do Sudeste.
Onde e quando o vento será mais forte?
28 de julho (segunda-feira)
- Rajadas acima de 91 km/h: litoral do RS, Sul de SC e áreas serranas do RS e SC.
- Entre 71 e 90 km/h: Grande Porto Alegre, Vale do Itajaí, Grande Florianópolis, Leste do PR (incluindo Curitiba), Vale do Ribeira (SP) e litoral paulista.
- Até 100 km/h: Serra do Mar e Grande São Paulo, especialmente à noite.
- Entre 40 e 50 km/h: interior de SP, Triângulo Mineiro, Pantanal de MS, norte do RJ e parte do ES.
29 de julho (terça-feira)
Com o ciclone se afastando para alto-mar, as rajadas enfraquecem, mas ainda podem atingir 51 a 70 km/h no litoral norte do RS e SC, litoral norte paulista e toda a faixa costeira do RJ.
Por que o Brasil não tem furacões — e este ciclone assusta tanto?
Segundo a meteorologista Bianca Lobo (Climatempo), o Brasil raramente enfrenta furacões porque o mar aqui não atinge temperaturas acima de 27°C, condição essencial para que esses fenômenos tropicais se formem.
Mesmo assim, ciclones extratropicais podem gerar ventos quase tão fortes quanto furacões fracos — e foi assim que, em 2004, o raro furacão Catarina se originou, evoluindo de um ciclone para furacão e atingindo Santa Catarina e o RS, causando 11 mortes e dezenas de cidades em estado de emergência.
Embora meteorologistas considerem improvável um novo Catarina, eles alertam que ciclones como o atual tendem a ficar mais frequentes e intensos com as mudanças climáticas.