Uma invasão de gafanhotos de proporções inéditas está devastando o sul da Ucrânia, principalmente a região de Zaporizhzhia, considerada um dos principais celeiros da Europa. Autoridades locais e especialistas classificam a situação como uma crise ambiental, resultado direto da guerra em curso com a Rússia, que tem dificultado ações de controle e provocado o abandono de áreas agrícolas.
De acordo com relatos de agricultores, enxames de gafanhotos estão cobrindo plantações inteiras. Até agora, estima-se que até 30% da colheita de girassol tenha sido perdida em algumas regiões. Os insetos, que se reproduzem rapidamente em áreas úmidas e pouco acessíveis, encontraram no sul da Ucrânia um ambiente ideal para proliferação.
Além de Zaporizhzhia, as regiões de Kherson, Odesa, Dnipro e Vinnytsia também registraram surtos em 2025. A praga se alastra por áreas onde antes existiam campos cultivados e hoje há terrenos abandonados, muitos deles próximos à linha de frente da guerra.
Guerra e colapso ecológico: combinação explosiva
Especialistas atribuem a invasão a uma combinação de fatores:
- Altas temperaturas recordes neste verão;
- Destruição de ecossistemas, como a barragem de Kakhovka, explodida em 2023 por forças russas;
- Abandono de áreas agrícolas, dificultando o controle biológico e químico das pragas;
- Falta de predadores naturais, como aves, que evitam zonas de combate;
- Impossibilidade de uso de aviões pulverizadores em áreas próximas ao conflito armado.
Segundo Vadym Chaykovskyi, inspetor-chefe fitossanitário da Ucrânia, o fenômeno está diretamente ligado à guerra:
“A razão principal é o conflito. As terras estão abandonadas, a represa de Kakhovka foi destruída. A invasão de gafanhotos é consequência do ecocídio promovido pela Rússia contra a Ucrânia.”
Impacto estratégico na agricultura ucraniana
A situação preocupa não apenas pela destruição local, mas por sua relevância global. Antes da guerra, a Ucrânia era o maior exportador de óleo de girassol do mundo e estava entre os cinco principais fornecedores de trigo.
Agora, com a agricultura comprometida e os produtores lutando para manter o mínimo de produtividade, o país corre o risco de sofrer ainda mais prejuízos econômicos, além de comprometer sua posição no mercado agrícola internacional.
Autoridades afirmam que a situação está sob controle nas áreas onde o acesso é possível, com aplicação de inseticidas em mais de 6 mil hectares em Zaporizhzhia. No entanto, o governo pede vigilância máxima aos agricultores, que devem monitorar suas plantações e acionar os órgãos fitossanitários ao menor sinal de infestação.
A prevenção de novas perdas depende da rápida detecção e resposta às áreas recém-afetadas, algo cada vez mais difícil em um cenário de guerra e instabilidade climática.