O Brasil enfrenta um dos maiores desafios do mercado de trabalho dos últimos anos: a escassez de profissionais qualificados, especialmente no setor de tecnologia. Mesmo com salários que podem ultrapassar R$ 90 mil por ano e benefícios cada vez mais atrativos, empresas de todos os portes disputam talentos em um cenário de transformação digital acelerada.
Segundo dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), entre 2023 e 2025 o país deverá registrar mais de 540 mil novas contratações na área, mas a formação disponível não supre a demanda. Apenas 53 mil profissionais são formados por ano, enquanto a necessidade é de 159 mil.
A falta de profissionais capacitados gera uma verdadeira guerra por talentos. Empresas de tecnologia e instituições financeiras têm investido em contrapropostas, promoções internas e benefícios robustos para reter seus colaboradores. Um levantamento da consultoria PageGroup aponta que oito em cada dez profissionais de finanças não querem mudar de emprego, reflexo das estratégias agressivas de retenção.
O cenário é ainda mais complexo com a popularização do trabalho remoto: empresas estrangeiras atraem brasileiros oferecendo salários em dólar ou euro, o que reduz ainda mais a oferta para empresas nacionais.
Formação insuficiente e evasão no ensino superior
O déficit de mão de obra é agravado por falhas na formação acadêmica. Dados do Ministério da Educação revelam que, apesar do aumento de matrículas em cursos superiores de tecnologia, menos de 5% dos matriculados concluem a graduação. Em 2023, das 1,8 milhão de vagas ofertadas, apenas 89,6 mil foram concluídas.
Entre os formandos, os cursos que mais graduaram alunos foram:
- Análise e Desenvolvimento de Sistemas – 34 mil formados
- Computação e TIC – 11,2 mil formados
- Ciência da Computação – 9,3 mil formados
A evasão está ligada à alta oferta de empregos para iniciantes, que faz com que muitos abandonem a graduação para ingressar rapidamente no mercado. No entanto, essa decisão costuma limitar o crescimento futuro devido à falta de qualificação aprofundada.
Cursos técnicos e de curta duração ganham espaço
Enquanto as graduações sofrem com a evasão, cursos técnicos e formações rápidas têm crescido. Entre 2019 e 2023, a formação técnica avançou 21,5%, enquanto os cursos de curta duração subiram impressionantes 587,1%. Em 2023, foram:
- 16 mil técnicos formados
- 73,6 mil certificados em cursos rápidos (FICs)
Embora esses programas ajudem a reduzir o déficit, especialistas afirmam que a formação ainda é básica e insuficiente para suprir as necessidades das empresas.
Cenário para 2025 e desafios futuros
De acordo com a Brasscom, o setor de TIC deve gerar até 147 mil novas vagas formais em 2025 na projeção mais otimista. O cenário base indica 88 mil novos postos com carteira assinada. Mesmo assim, a escassez de profissionais continua sendo um gargalo.
Além do déficit técnico, desigualdades estruturais persistem:
- 82,1% dos profissionais formados são homens
- Mulheres representam apenas 17,9% (alta de 1,6 ponto percentual)
- 48,1% dos formandos se declararam brancos, contra 32,6% de pretos e pardos