Adquirir um imóvel na França pode sair muito mais em conta — desde que o comprador esteja disposto a esperar. O antigo sistema en viager, previsto na lei francesa desde o ano 876, voltou a ganhar força e promete descontos de até 60% no valor de mercado. O método funciona como uma espécie de compra parcelada vitalícia: o comprador paga um valor inicial — o chamado bouquet — e, depois, prestações mensais ao vendedor até sua morte. Só então o novo dono pode ocupar o imóvel.
No modelo, o preço final depende da idade do vendedor, conhecido como ocupante vitalício. Quanto mais idoso ele for, menor será o valor calculado, chamado de “valor ocupado”. Em geral, o bouquet equivale a 30% desse valor, com o restante pago em parcelas mensais.
A lei proíbe o comprador de perguntar sobre a saúde do vendedor, o que abre espaço para estratégias inusitadas. Corretores relatam que alguns proprietários “interpretam” fragilidade física para tranquilizar o futuro dono sobre a possível curta duração dos pagamentos.
Vantagens para vendedores e investidores
Para os vendedores, especialmente idosos sem herdeiros, o viager garante renda mensal e a possibilidade de permanecer na casa até o fim da vida, sem preocupação com impostos sucessórios. Para investidores, pode ser um negócio de longo prazo: há casos em que o imóvel sai por apenas 40% ou 50% do preço estimado no mercado.
O modelo, que representa menos de 1% das transações imobiliárias na França, vem crescendo de 6% a 8% ao ano, segundo a Renee Costes Viager, responsável por 40% do mercado. A agência recebe cerca de 12 mil consultas anuais de proprietários interessados. O aumento da longevidade da população e a queda do valor das aposentadorias impulsionam a tendência.
Entre a comédia e a realidade
Histórias ligadas ao viager renderam enredos de filmes e casos famosos, como o da supercentenária Jeanne Calment, que vendeu seu apartamento aos 90 anos e viveu até os 122, obrigando o comprador e, depois, sua viúva a pagar mais que o dobro do valor do imóvel.
Apesar da aura de aposta sobre o tempo de vida do vendedor, especialistas garantem que o sistema é vantajoso para ambos os lados — desde que o comprador tenha paciência e boa saúde financeira para manter os pagamentos, e o vendedor busque segurança sem abrir mão do conforto da própria casa.