O de Havilland Comet, primeiro jato comercial do mundo, voltou a brilhar — ainda que agora em solo firme. Setenta e três anos após sua estreia, um exemplar do modelo foi restaurado e se tornou a grande atração do De Havilland Aircraft Museum, no noroeste de Londres.
Introduzido em 1949 e colocado em operação pela BOAC em 1952, o Comet representou um marco na aviação, reduzindo drasticamente o tempo de voo em rotas de longa distância. Com quatro motores turbojato Ghost embutidos nas asas, fuselagem pressurizada e design aerodinâmico avançado, ele oferecia viagens mais rápidas, silenciosas e confortáveis em comparação aos aviões a pistão, como o Douglas DC-6B e o Lockheed Constellation. Sua primeira rota comercial, de Londres a Joanesburgo, foi concluída em menos de 24 horas, com cinco escalas.

O modelo exposto no museu foi entregue em 1985 em estado precário e, segundo o voluntário Eddie Walsh, líder do projeto, estava “pouco mais que um tubo de metal corroído”. Ao longo de décadas, a equipe de entusiastas reconstruiu cada detalhe interno: poltronas com amplo espaço para as pernas, janelas retangulares, galley equipada e cockpit analógico idêntico ao original. Faltam apenas as asas, retiradas por questões de espaço.
Apesar de seu pioneirismo, o Comet teve carreira marcada por tragédias. Problemas de fadiga estrutural, agravados pelo formato quadrado das janelas, levaram a acidentes fatais e à suspensão das operações. As versões posteriores corrigiram os defeitos, mas a vantagem comercial já havia sido perdida para concorrentes como o Boeing 707.
Hoje, o Comet restaurado serve como testemunho de uma era ousada da aviação, lembrando tanto os avanços quanto os riscos da inovação. “Foi rápido demais, cedo demais”, resume Walsh. Ainda assim, sua importância é indiscutível: o avião abriu as portas para o transporte aéreo moderno e ajudou a estabelecer padrões de segurança que perduram até hoje.