O Brics avança em um projeto ambicioso para remodelar o sistema financeiro internacional. O bloco, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — além de novos integrantes como Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos — iniciou a fase de testes do Brics Pay, apelidado de “Pix Global”. A plataforma permitirá transferências instantâneas, seguras e de baixo custo entre os países-membros, reduzindo a dependência do dólar.
Inspirado no sucesso do Pix brasileiro, o Brics Pay pretende unificar ferramentas de pagamento já existentes em cada país. Entre elas estão o SBP russo, o UPI indiano, o IBPS chinês e o PayShap sul-africano. A meta é garantir interoperabilidade em tempo real, possibilitando transações diretas em moedas locais e barateando exportações e importações.
No Brasil, a expectativa é que o agronegócio, a mineração e o setor energético sejam os maiores beneficiados. Hoje, boa parte dessas transações passa pelo dólar, o que gera custos extras. Com a nova rede, operações poderão ocorrer em rúpias, yuans ou riais, sem conversão obrigatória para a moeda norte-americana.
Tecnologia descentralizada
A base do sistema é o Decentralized Cross-border Messaging System (DCMS), desenvolvido pela Universidade Estatal de São Petersburgo. Ele opera de forma descentralizada, com cada país gerenciando seu próprio nó, suporta até 20 mil mensagens por segundo e utiliza múltiplas camadas de criptografia. Diferentemente do SWIFT, dominado por bancos ocidentais, o BRICS Pay não possui um controlador central, o que garante maior independência frente a pressões externas.
O avanço do sistema já gera tensão com Washington. O presidente norte-americano, Donald Trump, classificou o Brics como um “grupo antiamericano” e ameaçou impor tarifas adicionais às importações vindas de países alinhados ao bloco. Além disso, tarifas sobre produtos brasileiros já foram elevadas a 50%. Para os EUA, a redução do papel do dólar representa uma ameaça direta à sua supremacia econômica.
Futuro financeiro multipolar
Economistas projetam que, até 2030, o Brics Pay movimente centenas de bilhões de dólares em transações anuais, ampliando o peso das moedas locais no comércio global. Para o Brasil, além da redução de custos, a participação ativa no projeto fortalece sua posição geopolítica e prepara terreno para a integração do Drex, o real digital atualmente em testes.
A criação do “Pix Global” não significa apenas inovação tecnológica: é um movimento estratégico em direção a um sistema financeiro mais multipolar e menos dependente do dólar, com potencial para redefinir a ordem econômica mundial nas próximas décadas.




