A presença de tropas colombianas e peruanas na região amazônica reacendeu uma disputa histórica entre os dois países pela soberania da Ilha Santa Rosa, localizada no rio Amazonas, na fronteira com o Brasil. O aumento da tensão militar ocorreu após o governo do Peru oficializar a criação de um novo distrito no território em junho, medida rejeitada por Bogotá.
Com cerca de 3 mil habitantes, a Ilha Santa Rosa está situada diante da cidade colombiana de Letícia. O governo peruano sustenta que a área integra a Ilha Chinería, atribuída ao país no Tratado de 1929, e que exerce soberania “de forma legítima e contínua há mais de um século”.
A Colômbia, no entanto, contesta. O presidente Gustavo Petro afirma que o território “não pertence ao Peru” e ameaça levar a questão à Justiça internacional caso não haja negociação bilateral. Em discurso na celebração da independência colombiana em Letícia, Petro disse que não reconhece as autoridades peruanas na região e acusou Lima de agir de forma “unilateral e violadora”.
Movimentação militar
Para reforçar sua posição, o Peru deslocou militares à ilha, hasteou bandeiras e enviou membros do governo a Santa Rosa. A imprensa local relatou ainda supostos sobrevoos de aviões colombianos em espaço aéreo peruano. Já Bogotá ampliou o efetivo de suas Forças Armadas em Letícia, importante porto comercial da Amazônia.
O Brasil, que compartilha fronteira com os dois países na região, acompanha a situação com cautela. O Itamaraty e o Ministério da Defesa ainda não se manifestaram publicamente.
Fronteira viva
A tensão é agravada pelas mudanças no leito do Amazonas, que provocam o surgimento de novas ilhas. Especialistas apontam que o deslocamento do rio ameaça reduzir o acesso às águas navegáveis. Estudos indicam que, até 2030, o curso do rio pode se desviar totalmente para o lado peruano.
Colômbia e Peru já travaram uma guerra em 1932 pelo controle da região amazônica, após contestação do tratado de fronteira de 1922. Desde então, as relações são marcadas por momentos de cooperação e atrito. A atual crise soma-se ao abalo diplomático iniciado em 2022, quando Petro classificou a destituição do então presidente peruano Pedro Castillo como “golpe de Estado”.