Astrônomos conseguiram, pela primeira vez, captar e transformar em som o momento em que um buraco negro foi lançado pelo espaço após se fundir com outro. O registro inédito foi possível graças ao estudo das ondas gravitacionais, pequenas deformações no tecido do espaço-tempo, detectadas durante um evento ocorrido há 2,4 bilhões de anos e batizado de GW190412.
A pesquisa, publicada na revista Nature Astronomy, utilizou dados coletados pelos observatórios LIGO (EUA), Virgo (Itália) e KAGRA (Japão).
O evento envolveu dois buracos negros de tamanhos muito diferentes: um com cerca de 30 vezes a massa do Sol e outro com pouco mais de 8. Essa assimetria gerou uma fusão desequilibrada, que não distribuiu a energia de forma uniforme.
O resultado foi um “recuo natal” — um empurrão cósmico que lançou o buraco negro recém-formado a mais de 50 quilômetros por segundo (equivalente a 180 mil km/h). Velocidade suficiente, segundo os cientistas, para expulsar o objeto até mesmo de aglomerados estelares.
Um novo instrumento para a ciência
Além da grandiosidade do fenômeno, os pesquisadores destacam a inovação do método. Pela primeira vez foi possível não apenas medir a velocidade, mas também a direção do movimento de um buraco negro após a fusão.
“Estamos reconstruindo a movimentação em 3D de um objeto a bilhões de anos-luz de distância apenas a partir de ondas gravitacionais”, explicou o astrofísico Koustav Chandra, da Universidade Estadual da Pensilvânia.
Esse avanço pode abrir caminho para entender melhor os ambientes onde buracos negros se formam e até identificar sinais luminosos associados a essas fusões.
O passado e o futuro
O impacto cósmico detectado em 2019 só chegou à Terra agora devido à distância colossal: 2,4 bilhões de anos-luz. Naquele momento, a vida no nosso planeta ainda dava seus primeiros passos em formas microscópicas.
Hoje, porém, o som desse evento chega como um lembrete da força bruta e misteriosa do universo — e da capacidade humana de decifrar, pouco a pouco, seus segredos.