No auge dos 84 anos, a agricultora aposentada Iracy Thiesen Sebold, de Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí, decidiu realizar um sonho antigo: aprender inglês. Com disciplina de estudante exemplar, ela se rendeu à tecnologia e há um ano segue uma rotina diária de estudos com a ajuda de um aplicativo de celular.
O compromisso está marcado no relógio: às 9h em ponto, dona Iracy abre o aplicativo, pega o caderno e anota cada palavra nova aprendida. “Às vezes faço três ou quatro lições no mesmo dia”, conta animada. A idosa já consegue ler diversos termos, mas admite que ainda tem dificuldades na pronúncia — desafio que ela pretende superar nos próximos meses.
O desejo de aprender inglês nasceu ainda na juventude, quando ajudava os filhos nas lições da escola. “Sempre pensava que um dia iria conseguir entender o que estava escrito”, recorda. O sonho voltou à tona em uma conversa com o neto de 13 anos, que baixou o aplicativo no celular da avó e a incentivou a começar.
“Nunca é tarde para estudar, para aprender”, afirma dona Iracy, que já enfrentou grandes desafios pessoais. Na casa dos 70 anos, após problemas de saúde, ela precisou reaprender a andar e a escrever. Hoje, além de cuidar do jardim e das artes manuais, acrescentou o inglês à sua rotina.
Benefícios do aprendizado na terceira idade
Especialistas apontam que aprender um novo idioma pode trazer importantes ganhos cognitivos para os idosos. O processo ajuda a melhorar memória, concentração e plasticidade cerebral, além de adiar o surgimento de doenças como Alzheimer e outras demências.
O aprendizado também contribui para a autoestima e reduz sentimentos de solidão, comuns nessa faixa etária. “Enfrentar e superar o desafio de uma nova língua proporciona um senso de realização e confiança”, destacam pesquisadores.
Educação em crescimento na terceira idade
O caso de dona Iracy reflete uma tendência nacional. De acordo com o Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado pelo Semesp, pessoas com 60 anos ou mais ainda representam uma minoria nas universidades — 0,4% em cursos presenciais e 0,8% no ensino a distância. Mas é justamente nesse grupo que houve maior crescimento nas últimas décadas.
Entre 2013 e 2023, as matrículas presenciais de idosos em instituições privadas aumentaram 22%. Já no ensino a distância, o salto foi de 672%, muito acima da média das demais faixas etárias.