A entrevista de Michele Bolsonaro ao jornal britânico The Telegraph, publicada nesta quarta-feira (24), mexeu com os bastidores políticos. Pela primeira vez, a ex-primeira-dama admitiu publicamente que pode disputar a Presidência da República em 2026, caso “seja da vontade de Deus”. A declaração ocorre em um momento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inelegível e condenado pelo STF a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
“Me levantarei como uma leoa para defender nossos valores conservadores, a verdade e a justiça. Se, para cumprir a vontade de Deus, for necessário que eu assuma a candidatura política, estarei pronta”, disse.
Pesquisas recentes reforçam o potencial da ex-primeira-dama. Segundo o Datafolha, Michelle teria 40% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra Lula (PT), que aparece com 48%. O desempenho é melhor que o dos filhos do ex-presidente: Eduardo e Flávio Bolsonaro perderiam para Lula por margens mais largas.
O nome dela também aparece em discussões sobre uma chapa com Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, como cabeça ou vice. Até então, Michelle sempre se apresentou como pré-candidata ao Senado pelo Distrito Federal, onde transferiu o título em julho.
Resistências internas
Apesar da pressão de parte dos aliados, Jair Bolsonaro tem resistido em colocá-la como candidata ao Planalto. Interlocutores dizem que ele considera a campanha presidencial “muito dura” para Michelle, que não teria experiência suficiente para lidar com debates sobre economia ou segurança pública. Além disso, o ex-presidente quer priorizar a formação de uma bancada forte no Senado para enfrentar o STF.
Discurso religioso e crítico ao STF
Na entrevista, Michelle reforçou sua identidade conservadora e evangélica, acusando o Supremo de perseguição:
“O julgamento de Jair e outros inocentes foi uma farsa judicial. […] Essa perseguição covarde não destruirá minha família.”
Ela também responsabilizou Lula e Alexandre de Moraes pelas recentes sanções impostas pelos Estados Unidos, que incluíram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
O que esperar
Ainda é cedo para cravar se Michelle Bolsonaro será candidata à Presidência em 2026. O movimento dependerá de fatores como:
- Unidade da direita em torno de um único nome;
- O papel de Tarcísio de Freitas na disputa;
- A disposição de Jair Bolsonaro em permitir que a esposa assuma a liderança do campo conservador.
Por ora, Michelle mantém a ambiguidade: declara-se pronta para a missão, mas reafirma o foco no Senado. O certo é que, com a ausência do ex-presidente no páreo, ela passa a ser uma das peças centrais na sucessão de 2026.