Em 1998, a Fiat colocou nas ruas brasileiras o Marea, sucessor do Tempra, com a promessa de revolucionar o segmento de sedãs médios. Equipamentos inéditos, motores potentes e acabamento refinado chamaram a atenção da imprensa e dos consumidores. Pouco tempo depois, porém, o carro mergulhou em uma crise de reputação da qual nunca mais se recuperou. Hoje, o modelo é lembrado como o “pior carro já vendido no Brasil” e virou alvo constante de memes nas redes sociais.
Na estreia, o Marea surpreendeu com itens de série inéditos para a Fiat, como teto solar elétrico, comandos de som no volante e airbags laterais. O motor Fivetech 2.0 de cinco cilindros entregava 142 cv, seguido de versões 2.4 de 160 cv e até um Turbo de 182 cv, capaz de chegar a 230 km/h — números raros para um sedã nacional dos anos 1990.
A revista Quatro Rodas chegou a colocar o modelo na capa de agosto de 1998 como vencedor em um comparativo contra rivais de peso como o Chevrolet Vectra e o Honda Civic. Parecia o início de uma trajetória de sucesso.
O calcanhar de Aquiles: manutenção
O que era sofisticado no papel se transformou em dor de cabeça na prática. O espaço reduzido no cofre do motor dificultava reparos, peças importadas demoravam a chegar e custavam caro. Além disso, a Fiat recomendava trocas de óleo a cada 20 mil km — um intervalo longo demais para as condições brasileiras, o que resultou em casos frequentes de formação de borra, superaquecimento e até incêndios.
A situação se agravou com a falta de informação: muitos proprietários usavam óleo inadequado, aumentando ainda mais os problemas. A partir daí, a fama de “bomba” se consolidou.
Vendas abaixo do esperado
Enquanto o Tempra havia emplacado mais de 200 mil unidades nos anos 1990, o Marea — somando sedã e perua Weekend — mal passou das 60 mil unidades entre 1998 e 2008, quando saiu de linha para dar espaço ao Linea.
O mercado, impiedoso, relegou o modelo ao esquecimento comercial. E as redes sociais o transformaram em ícone do fracasso automotivo, com montagens que ironizam desde custos de manutenção até supostos riscos de explosão.
Mais do que memes
Especialistas lembram que o insucesso do Marea não se resume a uma questão de qualidade. Estratégias de marketing equivocadas, falhas na adaptação técnica para o Brasil e a negligência da própria montadora em orientar os clientes ajudaram a escrever essa história.
O caso ilustra como até um projeto ambicioso pode ruir diante de fatores técnicos e de mercado — e como a memória digital não perdoa.