O Ministério da Saúde anunciou no início do mês uma medida histórica: a partir da segunda quinzena de novembro de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) passará a oferecer gratuitamente a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), um dos principais responsáveis por bronquiolite e pneumonia em crianças pequenas.
As primeiras 1,8 milhão de doses serão entregues ainda este ano, em um acordo entre o Instituto Butantan e a farmacêutica Pfizer, que também prevê a transferência de tecnologia para a produção nacional do imunizante.
O imunizante, chamado Abrysvo, será aplicado em gestantes a partir da 28ª semana de gestação. A estratégia garante uma dupla proteção: imuniza a mãe e transfere anticorpos para o bebê, protegendo-o nos primeiros meses de vida — fase de maior vulnerabilidade ao VSR.
Segundo o Ministério da Saúde, a expectativa é beneficiar cerca de 2 milhões de bebês nascidos vivos por ano, evitando até 28 mil internações anuais.
O impacto do VSR no Brasil
- O vírus responde por 80% dos casos de bronquiolite e 60% das pneumonias em crianças menores de 2 anos.
- Entre 2018 e 2024, foram registradas 83 mil internações de bebês prematuros devido a complicações pelo VSR.
- Em 2025, os casos em crianças de até 2 anos aumentaram 52% em relação ao ano anterior, segundo a Fiocruz.
- A cada cinco crianças infectadas, uma precisa de atendimento médico; uma em cada 50 acaba hospitalizada.
Na rede privada, a vacina pode custar até R$ 3.680 por bebê. A oferta gratuita pelo SUS é considerada um marco de equidade e acesso.
O que dizem os especialistas
O infectologista Renato Kfouri destacou que países que já adotaram estratégias semelhantes reduziram em quase 50% as visitas a emergências pediátricas.
“É um avanço que desafoga os hospitais e salva vidas. A bronquiolite, além do risco imediato, pode estar associada ao desenvolvimento de chiado recorrente e asma”, afirmou.
Já o professor Marcos Lago, da UERJ, ressaltou que a vacina da Pfizer utiliza vírus inativado, sem riscos de causar infecção, e não apresentou efeitos colaterais significativos nos estudos clínicos.
Produção nacional e soberania da saúde
O acordo de transferência de tecnologia faz parte da estratégia do governo de fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde e reduzir a dependência de insumos importados.
“Nada disso é obstáculo para que nós, do SUS, possamos oferecer ainda este ano, de graça, às gestantes brasileiras. É proteção para mãe e filho, inovação para o país e geração de empregos”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Prevenção além da vacina
Apesar do avanço, especialistas lembram que outras medidas continuam sendo importantes para proteger os pequenos:
- Higienização frequente das mãos;
- Evitar contato de bebês com pessoas gripadas ou com tosse;
- Atenção aos sinais de dificuldade para respirar ou se alimentar.