O que seria um recomeço transformou-se em um caso curioso em Baixo Guandu (ES), município de pouco mais de 31 mil habitantes. O ambulante Luís Fernando de Arruda, 32 anos, recebeu R$ 71 mil líquidos de indenização da Fundação Renova, ligada à reparação da Vale pelo rompimento da barragem de Fundão (MG). Trinta dias depois, o dinheiro já não existia.
Casado e pai de uma bebê, Arruda disse ter optado por viver intensamente em vez de investir no futuro:
“Não me arrependi nem um pouquinho. Um dia todo mundo vai morrer, né? Eu queria me divertir”, afirmou.
Durante o período, promoveu churrascos diários regados a cerveja e música alta, alugou uma casa para as festas, comprou moto, celular e até passarinhos de alto valor. Pouco tempo depois, vendeu tudo.
Do luxo ao retorno das ruas
Sem reservas financeiras, o ex-sorveteiro voltou à mesma situação de antes da indenização. Hoje, se sustenta com pequenos bicos e já planeja retomar a venda de picolés nas ruas da cidade — mas “só quando esquentar”. Até lá, aguarda a restituição do Imposto de Renda, cerca de R$ 5 mil, para recomeçar.
Na cidade, sua história ficou marcada pela frase “não dá nada”, repetida como bordão durante o período de bonança. Nas redes sociais, ele chegou a anunciar a venda da moto, do celular, das caixas de som e até de um triciclo infantil.
Especialistas apontam falta de preparo
O caso traz a realidade sobre a baixa educação financeira dos brasileiros. Pesquisa do Instituto Locomotiva, encomendada pela 99Pay, mostra que 63% das pessoas das classes A e B não possuem reserva de emergência. Entre as classes C e D, a situação é ainda mais crítica.
Para a professora de finanças pessoais Graziela Fortunato, da PUC-Rio, a dificuldade em poupar não se limita à renda:
“Fazer uma reserva se torna complicado. O ideal seria guardar de três a seis salários, mas quase ninguém consegue manter isso”, afirmou.
A trajetória de Arruda é extrema, mas ilustra um padrão preocupante: três em cada quatro brasileiros recorreram a empréstimos pessoais no último ano, segundo a mesma pesquisa.
Para especialistas, o episódio mostra como o acesso inesperado a valores altos, sem planejamento, pode se dissipar rapidamente — deixando um rastro de arrependimento e dívidas.
No caso de Luís Fernando, porém, arrependimento não parece estar no vocabulário.
“Eu vivi como rei. Agora volto a ser eu mesmo.”