O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira (30) que trabalha para trazer ao país o fomepizol, medicamento usado como antídoto em casos de intoxicação por metanol. A iniciativa será feita em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), já que o remédio não possui registro no Brasil nem em outros países da região.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza o etanol farmacêutico como tratamento, disponível em apenas 32 centros de referência espalhados pelo país. Embora eficaz, ele apresenta limitações e mais efeitos colaterais.
Segundo o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Unicamp, o fomepizol é mais seguro e atua diretamente ao inibir a enzima que transforma o metanol em ácido fórmico — substância tóxica responsável por danos graves, como convulsões, cegueira e até a morte.
O medicamento já integra a lista de essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas nenhuma farmacêutica solicitou registro junto à Anvisa até hoje.
“O fomepizol é mais simples de utilizar do que o etanol na veia. Ter um estoque desse medicamento tem de ser uma urgência”, afirmou o pediatra e toxicologista Fábio Bucaretchi, coordenador do CIATox de Campinas.
Situação no Brasil
O país já registrou 43 casos suspeitos de intoxicação por metanol em 2025 — 39 em São Paulo e 4 em Pernambuco.
- Em São Paulo, há 10 confirmações, além de um óbito e cinco mortes em investigação.
- Em Pernambuco, duas mortes são investigadas.
As ocorrências estão ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, e a Polícia Federal investiga possível atuação de uma organização criminosa.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que a “sala de situação” montada para acompanhar os casos seguirá ativa enquanto o risco persistir.
Como é feito o tratamento hoje
O tratamento pode envolver:
- Administração de etanol farmacêutico, que compete com o metanol no fígado e reduz a formação de compostos tóxicos;
- Hemodiálise, para eliminar a substância do organismo mais rapidamente;
- Cuidados de suporte, como intubação e ventilação mecânica.
Especialistas alertam que isso não significa que pessoas com sintomas devam beber álcool por conta própria. “O tempo é um grande aliado ou inimigo. Quanto antes o atendimento, menor o risco de lesão”, destacou o toxicologista Alvaro Pulchinelli, do Grupo Fleury.
Próximos passos
O governo negocia com a Opas para importar o fomepizol e criar uma reserva estratégica nacional, distribuída em centros de referência. Além disso, uma nota técnica já foi enviada a estados e municípios para reforçar a notificação imediata de casos suspeitos.
“Estamos diante de uma situação anormal, fora da série histórica do país. Precisamos garantir resposta rápida para proteger a população”, afirmou Padilha.