O Governo Federal confirmou que milhares de brasileiros tiveram o Bolsa Família cortado e não receberão o benefício em outubro de 2025. A medida é resultado de uma série de fiscalizações e mudanças nas regras de elegibilidade implementadas ao longo do ano, que já retiraram mais de 1,2 milhão de famílias da folha de pagamentos desde dezembro de 2024.
Com os cortes, o número total de beneficiários caiu para menos de 20 milhões de famílias pela primeira vez desde 2022. O governo justifica as exclusões alegando “aumento de renda” entre parte dos inscritos e ajustes no processo de habilitação municipal, mas especialistas apontam que o processo atingiu também famílias em situação de vulnerabilidade.
Um dos casos mais emblemáticos vem de Pernambuco, onde uma revisão detalhada do cadastro resultou em 646 mil exclusões entre 2023 e 2024. Segundo o governo estadual, o cruzamento de dados realizado pela Controladoria Geral do Estado (CGE) e pela Secretaria da Fazenda (Sefaz) identificou inconsistências em informações de renda, consumo e patrimônio.
O pente-fino confrontou dados de 1,46 milhão de famílias com bases estaduais como ICMS, IPVA, propriedade de veículos e vínculos empregatícios.
“Fizemos uma higienização do cadastro para garantir que o benefício chegue a quem realmente precisa”, afirmou o secretário da Fazenda de Pernambuco, Wilson de Paula.
O resultado foi uma economia de R$ 165 milhões em dois anos, valor que rendeu ao governo pernambucano o 29º Prêmio Tesouro de Finanças Públicas em 2024.
Mudanças federais apertam critérios e encurtam “regra de proteção”
Além das fiscalizações estaduais, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) publicou, em julho, uma nova portaria no Diário Oficial da União que amplia o poder do governo para suspender benefícios sem aviso prévio.
Entre as principais mudanças, está a redução da chamada “regra de proteção”, que permite a permanência de famílias com pequena elevação de renda no programa. O limite de renda per capita caiu de R$ 758 para R$ 706, e o período máximo de permanência foi reduzido de 24 meses para apenas 12 meses.
Na prática, cerca de 500 mil famílias perderam o direito à regra e, consequentemente, ao repasse — que era equivalente a 50% da parcela fixa do Bolsa Família, ou seja, R$ 300.
São Paulo e Bahia lideram cortes
Os dados oficiais do MDS mostram que o estado de São Paulo teve o maior número de cancelamentos em julho, com 126 mil famílias fora da folha de pagamento. Em seguida aparece a Bahia, com 85 mil cortes, além de reduções expressivas em estados como Pernambuco, Minas Gerais e Ceará.
Apenas entre junho e julho de 2025, 958 mil famílias deixaram de receber o benefício.
Contestação e impacto social
Apesar de o governo alegar que as exclusões visam corrigir distorções e eliminar fraudes, entidades sociais alertam para o impacto direto sobre famílias em situação de vulnerabilidade. O processo de contestação pode ser feito nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), mas muitos beneficiários relatam dificuldade de acesso às informações e lentidão na reanálise dos cadastros.
Em Pernambuco, por exemplo, apenas 0,1% dos excluídos apresentaram queixas formais, e 50 famílias conseguiram a reintegração após análise — número considerado baixo diante da magnitude dos cortes.