O governo federal deu mais um passo para viabilizar a criação de uma das obras de infraestrutura mais ambiciosas da América do Sul. O Brasil e a China assinaram um acordo de cooperação para o desenvolvimento de estudos técnicos sobre a construção de uma ferrovia que ligará o porto de Ilhéus, na Bahia, ao porto de Chancay, no Peru, cruzando o continente do Atlântico ao Pacífico.
O projeto, que integra o programa Rotas de Integração Sul-Americana, busca facilitar o escoamento de produtos brasileiros para a Ásia, em especial para a China — principal parceiro comercial do país. A ferrovia seria uma alternativa logística estratégica ao transporte marítimo tradicional, reduzindo custos e tempo de deslocamento.
A assinatura do memorando de entendimento ocorreu em Brasília e contou com representantes do Ministério dos Transportes, da estatal Infra S.A. e do China Railway Economic and Planning Research Institute, responsável pelos estudos técnicos no lado chinês.

O documento, com duração inicial de cinco anos e possibilidade de prorrogação, prevê a análise conjunta da malha ferroviária brasileira, com foco na interligação entre modais — rodovias, ferrovias, hidrovias e portos — e na sustentabilidade econômica e ambiental da futura ferrovia.
Segundo o Ministério dos Transportes, os levantamentos iniciais avaliarão a possibilidade de aproveitar trechos já existentes, como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia Norte-Sul (FNS), que já possuem obras em diferentes estágios de execução.
Por onde o trem vai passar
A proposta atual prevê que a ferrovia atravesse os estados de Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre, até cruzar a fronteira com o Peru. No território peruano, o trajeto seguirá até o porto de Chancay, no litoral, localizado a cerca de 70 quilômetros de Lima.
O porto, inaugurado em 2024 com financiamento chinês, faz parte da iniciativa global “Cinturão e Rota”, conhecida como a “Nova Rota da Seda”, que busca ampliar os investimentos da China em infraestrutura pelo mundo.
Redução de tempo e custos
Projeções preliminares do governo peruano indicam que a nova rota poderá reduzir de 40 para 28 dias o tempo médio de transporte de cargas do Brasil para a Ásia. Além disso, o uso de modais ferroviários e marítimos tende a diminuir significativamente os custos logísticos, hoje concentrados em portos do Sudeste.
O secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, destacou que o projeto representa um “passo estratégico para aproximar continentes e reduzir distâncias”.
“Acreditamos que estamos concretizando uma parceria essencial com os melhores do mundo para resolver nossos gargalos logísticos e integrar o Brasil de forma mais competitiva ao comércio internacional”, afirmou.
Próximos passos
Os estudos técnicos devem definir o traçado definitivo, as estimativas de custo e a viabilidade econômica e ambientalda obra. Ainda não há prazo definido para a conclusão dos levantamentos nem previsão de início das construções.
O governo brasileiro aposta que o novo cenário econômico e a ampliação de parcerias internacionais — especialmente com a China — tornam o projeto mais viável do que em tentativas anteriores, como a proposta de uma ferrovia transcontinental estudada entre 2015 e 2016, que acabou não avançando.