O planeta Marte acaba de ganhar um visitante inesperado vindo das profundezas do espaço. O cometa 3I/ATLAS, um corpo celeste originário de outro sistema estelar, está sobrevoando as proximidades do planeta vermelho e foi flagrado pelas sondas ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) e Mars Express, ambas da Agência Espacial Europeia (ESA).
As imagens, capturadas entre os dias 1º e 7 de outubro, mostram o cometa como um ponto brilhante e difusoatravessando o campo de visão das câmeras a cerca de 30 milhões de quilômetros de Marte. O registro é considerado histórico: trata-se de um dos poucos objetos interestelares já detectados pelo ser humano.
O 3I/ATLAS foi descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio ATLAS, localizado no Chile. Desde então, astrônomos de várias partes do mundo têm acompanhado sua trajetória enquanto ele atravessa o Sistema Solar. Acredita-se que o cometa tenha sido ejetado de outro sistema estelar há bilhões de anos, após sofrer perturbações gravitacionais, e agora segue uma rota de passagem temporária pela nossa vizinhança cósmica.

De acordo com especialistas, o 3I/ATLAS pode ser até três bilhões de anos mais antigo que o Sistema Solar, o que o torna potencialmente o cometa mais velho já observado.
O desafio de registrar o “forasteiro”
As câmeras do ExoMars TGO, equipadas com o sistema CaSSIS (Colour and Stereo Surface Imaging System), e da Mars Express, com a HRSC (High Resolution Stereo Camera), conseguiram captar o objeto mesmo a uma distância gigantesca — uma tarefa descrita pelos cientistas como “extremamente desafiadora”.
“O cometa é de 10.000 a 100.000 vezes mais fraco do que nossos alvos habituais”, explicou Nick Thomas, pesquisador principal da câmera CaSSIS.
O calor solar tem feito o cometa liberar gases e poeira, formando uma coma difusa ao redor do núcleo rochoso coberto de gelo. No entanto, sua cauda ainda não é visível, por ser mais tênue e dispersa.
Segundo a ESA, seria impossível distinguir o núcleo do cometa — com cerca de um quilômetro de diâmetro — a essa distância, comparando a tarefa a “tentar enxergar um celular na Lua a partir da Terra”.
Mais observações a caminho
As equipes da ESA pretendem combinar os dados coletados pelas duas sondas para criar imagens compostas mais detalhadas do visitante interestelar. E a observação não para por aí: em novembro, a sonda JUICE (Jupiter Icy Moons Explorer) estará em posição de monitorar o 3I/ATLAS após sua máxima aproximação ao Sol.
Os novos dados devem ser divulgados em fevereiro de 2026, revelando como o cometa se comporta ao atingir o ponto mais quente da sua jornada.
Mistério e especulações
O comportamento incomum do 3I/ATLAS tem despertado curiosidade e especulações entre cientistas e o público. Alguns pesquisadores sugerem que suas características anômalas poderiam indicar um tipo de objeto interestelar ainda não catalogado — e, em teorias mais ousadas, até uma possível estrutura artificial.
Por enquanto, o consenso científico é de que se trata de um cometa natural, um “forasteiro cósmico” que oferece uma oportunidade rara de estudar material formado fora do Sistema Solar.