O conflito comercial entre Brasil e Estados Unidos, iniciado após o tarifaço imposto pelo governo americano sobre o café brasileiro, já começa a redesenhar o mapa global das exportações do grão. Em agosto, o país registrou queda de 17,5% nas vendas externas em relação ao mesmo mês de 2024, mas ganhou um novo e poderoso parceiro na Europa: a Alemanha, que ultrapassou os EUA e assumiu a liderança como principal compradora do café nacional.
Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os Estados Unidos importaram 301 mil sacas de café em agosto, volume 46% menor do que no mesmo período do ano anterior. Já a Alemanha adquiriu 414 mil sacas, consolidando-se no topo do ranking mensal de destinos do produto brasileiro.
“Os americanos deixaram de ser nossos maiores compradores em agosto, descendo para o segundo lugar. Essa queda já reflete o impacto das tarifas impostas”, explicou Márcio Ferreira, presidente do Cecafé. Ele destacou que, embora no acumulado do ano os EUA ainda mantenham a liderança, a tendência é de maior diversificação dos destinos nos próximos meses.
Colômbia surpreende e aumenta compras em 600%
Na contramão dos EUA, a Colômbia — tradicional concorrente do Brasil na exportação de café — foi um dos países que mais ampliaram as aquisições do produto brasileiro. O volume comprado saltou de 16 mil para mais de 112 mil sacas de 60 kg, um crescimento de 578% em relação a agosto de 2024.
O aumento expressivo se deve, segundo o Cecafé, à necessidade de o país suprir o mercado interno e reexportar parte do grão dentro do regime de drawback, que permite benefícios fiscais em importações destinadas à fabricação de produtos exportáveis.
Tarifaço desorganizou o mercado global
O presidente do Cecafé avalia que o tarifaço imposto por Washington gerou uma forte volatilidade nos preços internacionais, acentuando um cenário já pressionado por oferta limitada e safras afetadas por questões climáticas.
“Os fundamentos já apontavam alta, mas as tarifas desordenaram o mercado e abriram espaço para movimentos especulativos”, afirmou Ferreira.
Apesar da queda nas exportações em agosto, o setor tem mostrado sinais de recuperação. Em setembro, os embarques somaram 3,75 milhões de sacas, o que representa redução menor — de 18,4% — na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Europa e Ásia ampliam presença
Para o diretor-executivo do Cecafé, Marcos Matos, o momento reforça a importância de novos mercados compradores. Além da Alemanha, Itália, Japão, China, Rússia e Turquia vêm ampliando a participação nas importações de café brasileiro.
“Há uma grande realocação. Menor disponibilidade faz o preço subir, mas também diversifica nossos destinos. Os países europeus e asiáticos estão garantindo seus estoques e buscando mais cafés do Brasil”, afirma Matos.