Por trás dos foguetes que voltam sozinhos à Terra e dos carros elétricos que dirigem quase sem ajuda humana, existe uma ambição ainda maior — e talvez a mais audaciosa de todas. Elon Musk quer controlar a infraestrutura da internet global. E o caminho escolhido para isso passa pelo céu: a constelação de satélites Starlink, um projeto que já se tornou o maior empreendimento espacial de comunicação da história.
O plano começou a ganhar forma em 2017, quando a SpaceX apresentou ao governo dos Estados Unidos um pedido para lançar 4.425 satélites com o objetivo de “cobrir a Terra inteira com internet de alta velocidade”. Na época, o projeto parecia quase ficção científica. Cada satélite, do tamanho de um carro, seria colocado em órbitas entre 1.100 e 1.300 quilômetros de altitude. O custo estimado: US$ 10 bilhões.
Dois anos depois, os primeiros protótipos subiram ao espaço. E, em 2021, a Starlink iniciou operações comerciais, permitindo que usuários em regiões remotas acessassem a internet com velocidades acima de 150 megabits por segundo— algo inédito em áreas onde nem mesmo o 4G chegava.
O que parecia um projeto visionário tornou-se, em menos de uma década, uma rede de mais de 10.000 satélites em órbita. Desses, 8.608 estão ativos, garantindo cobertura contínua em dezenas de países. Cada lançamento do foguete Falcon 9, também da SpaceX, adiciona cerca de 50 a 60 novos satélites à constelação, alimentando uma rede em constante expansão.
A SpaceX já recebeu autorização para operar 12 mil satélites, mas o plano oficial — mantido em sigilo por anos — prevê mais de 30 mil unidades no espaço. É uma estrutura de comunicação que ultrapassa qualquer outra já criada pela humanidade.
“Queremos garantir que, em qualquer ponto do planeta — do Ártico ao Saara — alguém possa se conectar à internet em segundos”, afirmou Musk em uma conferência da SpaceX.
Uma revolução com riscos e segredos
A Starlink promete internet rápida e acessível em qualquer lugar, mas o impacto de um sistema tão vasto levanta preocupações. Astrônomos alertam para o brilho excessivo dos satélites, que interfere em observações do espaço. Especialistas em defesa discutem o poder estratégico de uma rede global controlada por uma única empresa privada.
Além disso, a corrida por espaço orbital está cada vez mais acirrada: a superlotação da órbita terrestre baixa se tornou um tema sensível entre agências espaciais, temendo colisões em cadeia conhecidas como “síndrome de Kessler”.
Mesmo assim, Musk segue adiante — e a expansão continua em ritmo acelerado. Cada satélite tem vida útil média de cinco anos, o que exige substituições constantes, criando uma operação que não deve parar tão cedo.
Conectividade, poder e o futuro digital
Hoje, a Starlink não é apenas uma fornecedora de internet. Ela está sendo testada em aeronaves, embarcações, regiões de desastres naturais e até por forças armadas. A rede já mostrou ser capaz de manter comunicações estáveis em zonas de guerra e áreas sem infraestrutura terrestre.
Para analistas de tecnologia e segurança, isso dá a Musk um tipo de poder inédito: o controle de uma infraestrutura global essencial, independente de fronteiras e governos.
“Se a internet é o sangue da civilização moderna, a Starlink pode se tornar o coração que bombeia esse fluxo”, escreveu o Financial Times em análise recente.