A Amazon apresentou nesta quarta-feira (22) seu sistema robótico mais avançado até agora — e o mais próximo de uma substituição em larga escala da força de trabalho humana em seus armazéns. Chamado Blue Jay, o robô é capaz de executar múltiplas tarefas simultaneamente, como separar, embalar e armazenar produtos, reduzindo a necessidade de intervenção humana em até 75% das operações logísticas.
O Blue Jay combina três funções antes realizadas em diferentes estações robóticas em um único ponto de trabalho. O sistema, composto por braços mecânicos suspensos e equipados com ventosas, é capaz de manipular itens de variados tamanhos e formatos com precisão milimétrica. Segundo a empresa, o novo robô “atua como um maestro coordenando uma orquestra”, realizando milhares de movimentos em sincronia, sem pausas ou erros.
A tecnologia está sendo testada em um armazém na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, e já é capaz de lidar com cerca de 75% dos itens que circulam nas instalações da Amazon. A expectativa é que o Blue Jay se torne peça central nos centros de entrega ultrarrápida da companhia, ampliando a automação e diminuindo custos.

O novo robô foi desenvolvido em pouco mais de um ano, um prazo recorde para a Amazon. Segundo a companhia, o avanço foi possível graças ao uso de inteligência artificial e “gêmeos digitais”, modelos virtuais que simulam o comportamento real de máquinas antes que sejam produzidas fisicamente.
Essa aceleração marca uma mudança de escala: após uma década investindo em automação — desde a compra da Kiva Systems, em 2012, por US$ 775 milhões —, a Amazon agora aposta em sistemas capazes de substituir diretamente tarefas humanas.
De acordo com documentos internos obtidos pelo The New York Times, a empresa planeja automatizar até 75% de suas operações logísticas até 2033, o que poderia eliminar cerca de 600 mil empregos humanos em todo o mundo. Apenas nos Estados Unidos, a expectativa é evitar a contratação de 160 mil pessoas até 2027, com uma economia estimada de US$ 0,30 por item processado.
O economista Daron Acemoglu, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), avalia que “nenhuma empresa tem o mesmo incentivo para automatizar quanto a Amazon”. Segundo ele, se os planos se confirmarem, “um dos maiores empregadores dos Estados Unidos se tornará um destruidor líquido de empregos, não um criador”.
Robôs “colaboradores” — ou substitutos?
Diante das críticas, a Amazon tem adotado um discurso mais suave. Em vez de falar em “automação”, a empresa prefere o termo “cobôs”, junção de “colaboradores” e “robôs”, para reforçar a ideia de que as máquinas atuam em parceria com os funcionários, e não em seu lugar.
A companhia afirma que o objetivo é “reduzir tarefas fisicamente exigentes, melhorar a ergonomia e abrir novas oportunidades de carreira”. Segundo comunicado oficial, os robôs como o Blue Jay “ajudam a manter os funcionários dentro da sua ‘zona de potência ergonômica’, evitando movimentos repetitivos e riscos de lesões”.
Ainda assim, relatórios independentes sugerem o contrário. Um estudo do Center for Investigative Reporting, de 2020, mostrou que armazéns automatizados da Amazon registram mais acidentes de trabalho do que aqueles operados apenas por humanos.
A estratégia de uma revolução silenciosa
O Blue Jay integra uma nova geração de sistemas movidos por inteligência artificial e sensores avançados, que inclui o Vulcan (robô com senso de toque) e o Project Eluna, uma IA “autônoma” que ajuda gerentes a prever gargalos operacionais e redistribuir tarefas em tempo real.
Segundo analistas do Morgan Stanley, a automação total dos armazéns pode gerar economia de até US$ 4 bilhões até 2027. Para a Amazon, trata-se de um avanço estratégico; para trabalhadores e sindicatos, um alerta sobre o futuro do emprego industrial.