A NASA confirmou nesta segunda-feira (27) a ativação do protocolo de defesa planetária após astrônomos detectarem mudanças inesperadas na trajetória do cometa 3I/ATLAS, um objeto interestelar que cruza o Sistema Solar a cerca de 221 mil km/h. A decisão foi comunicada em boletim oficial pelo Minor Planet Center, ligado à Universidade de Harvard e à União Astronômica Internacional.
O episódio acendeu um alerta vermelho global e mobilizou a Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN), que iniciou uma campanha de observação coordenada entre 27 de novembro de 2025 e 27 de janeiro de 2026. O objetivo é aprimorar técnicas de medição orbital e revisar protocolos de resposta a possíveis ameaças espaciais.
O chamado protocolo de defesa planetária é um conjunto de medidas de vigilância e prevenção que reúne observatórios e agências espaciais do mundo todo para monitorar corpos celestes com comportamento atípico.
No caso de cometas, os cálculos orbitais são mais complexos: à medida que o objeto se aproxima do Sol, o aquecimento libera gases e poeira, o que pode deslocar seu centro de brilho e alterar a trajetória prevista.
Apesar da mobilização internacional, os cientistas reforçam que não há risco de colisão com a Terra. De acordo com dados da NASA e da Agência Espacial Europeia (ESA), o 3I/ATLAS deve passar a uma distância segura — entre 240 e 270 milhões de quilômetros do planeta.
Um visitante raro e milenar
O 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar já identificado pela ciência, depois do misterioso ʻOumuamua(2017) e do 2I/Borisov (2019). Ele vem de fora dos limites gravitacionais do Sol e segue uma trajetória hiperbólica, o que significa que não retornará após cruzar o Sistema Solar.
Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo telescópio ATLAS, no Chile, o cometa tem cerca de 5,6 quilômetros de diâmetro e pode ser três bilhões de anos mais antigo que o próprio Sistema Solar. Por isso, sua composição oferece uma oportunidade única para estudar os materiais primordiais da galáxia e compreender a formação de planetas em sistemas estelares distantes.
Entre 1º e 7 de outubro, o cometa passou a 30 milhões de quilômetros de Marte, sendo registrado pelas missões ExoMars Trace Gas Orbiter e Mars Express, ambas da ESA. As imagens mostraram um ponto luminoso e difuso, ainda sem cauda visível.
Os cientistas esperam que, ao se aproximar do Sol, o 3I/ATLAS desenvolva uma cauda de milhões de quilômetros, formada pela liberação de gás e poeira. O ponto de máxima aproximação, o periélio, deve ocorrer em 30 de outubro, dentro da órbita de Marte.
Durante esse período, o cometa ficará oculto atrás do Sol para observadores na Terra, voltando a ser visível apenas no final de novembro, com o auxílio de telescópios potentes.
Um laboratório natural no espaço
Para a comunidade científica, o 3I/ATLAS representa um laboratório natural. Por ser um visitante de fora do Sistema Solar, ele carrega pistas sobre como planetas e estrelas se formam em outras regiões da Via Láctea.
“Esta foi uma observação extremamente desafiadora”, explicou Nick Thomas, pesquisador da missão ExoMars. “O cometa é entre 10 mil e 100 mil vezes mais fraco do que os alvos usuais observados pelo nosso instrumento.”
Como parte da campanha global, será realizado um workshop técnico em 10 de novembro, reunindo especialistas em astrometria e dinâmica orbital para padronizar medições e reduzir erros de interpretação.




