O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu viajar à Colômbia no fim de semana para participar da reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) com a União Europeia, marcada para os dias 9 e 10 de novembro, na cidade de Santa Marta. A informação foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, na noite de terça-feira (4).
De acordo com o chanceler, o encontro terá como um de seus eixos centrais a defesa da soberania da Venezuela, que, nas últimas semanas, tem sido alvo de ameaças de ação militar por parte dos Estados Unidos.
“É uma solidariedade regional à Venezuela, tendo em vista que o presidente repetidamente já disse que a América Latina — e sobretudo a América do Sul — é uma região de paz e cooperação”, afirmou Vieira.
A participação de Lula deve ter forte simbolismo diplomático. O Itamaraty avalia que, diante da escalada de tensões no Caribe, é necessário reafirmar o princípio da não intervenção e do diálogo multilateral, pilares da política externa brasileira desde o início do terceiro mandato de Lula.
Fontes do governo indicam que o presidente defenderá soluções negociadas para a crise venezuelana e condenará ações unilaterais dos EUA, que recentemente enviaram navios de guerra ao Caribe e caças a Porto Rico sob o pretexto de combater o tráfico de drogas.
Entretanto, segundo analistas, as operações americanas têm características de pressão militar sobre o governo de Nicolás Maduro, podendo configurar execuções extrajudiciais e violações do direito internacional.
Ajustes na agenda presidencial
A viagem à Colômbia não estava prevista originalmente. Lula, que está em Belém (PA) desde o último sábado (1º), onde supervisiona os preparativos para a COP30, havia planejado viajar no fim de semana para Fernando de Noronha (PE), onde participaria do lançamento de um projeto de energia solar.
Com a nova decisão, o presidente cancelou a agenda em Noronha e seguirá de Belém para Santa Marta após o encerramento da cúpula de chefes de Estado da COP30, marcada para quinta (6) e sexta-feira (7). Ele deve participar da reunião da Celac no domingo (9) e retornar ao Pará a tempo da abertura oficial da conferência climática na segunda-feira (10).
“Relações comerciais seguem inalteradas”, diz Itamaraty
O chanceler Mauro Vieira minimizou o impacto da posição brasileira nas relações bilaterais com Washington, especialmente nas negociações sobre tarifas de exportação.
“A manifestação do presidente não atrapalhará de forma alguma as negociações com os Estados Unidos. Os contatos tratam de questões comerciais e bilaterais, não de política regional”, disse.
Contexto internacional e riscos
De acordo com reportagens do New York Times, o governo Donald Trump elaborou planos que incluem ataques diretos a unidades militares venezuelanas e até a ocupação de campos de petróleo do país. Embora o ex-presidente ainda não tenha decidido avançar, fontes afirmam que assessores pressionam por ações mais agressivas, com o objetivo de remover Maduro do poder.
A posição brasileira, nesse cenário, é vista como um contraponto latino-americano às ameaças americanas. Diplomatas próximos ao Planalto afirmam que Lula busca liderar uma frente regional pela paz e defender a soberania dos países vizinhos, evitando a repetição de intervenções militares que marcaram o século XX.




