Um inseto minúsculo, mas com aparência demoníaca, está chamando a atenção de pesquisadores e do público na Austrália. Cientistas identificaram uma nova espécie de abelha nativa com pequenos chifres no rosto, batizada de Megachile lucifer — um nome inspirado tanto por suas feições incomuns quanto por uma coincidência curiosa: a pesquisadora que a descreveu estava assistindo à série Lucifer quando redigia o artigo científico.
A descoberta foi publicada no Journal of Hymenoptera Research e é a primeira nova espécie desse grupo descrita em mais de 20 anos. O inseto foi encontrado nas montanhas Bremer, região de Goldfields, a cerca de 470 quilômetros a leste de Perth, no oeste australiano, durante um estudo sobre uma flor silvestre rara e ameaçada de extinção.
Megachile lucifer
As fêmeas da espécie apresentam dois chifres voltados para cima, medindo cerca de 0,9 milímetro cada, uma característica que imediatamente chamou a atenção dos especialistas. Segundo a bióloga Kit Prendergast, pesquisadora da Curtin University e autora principal do estudo, o nome “lucifer” — que significa “portador da luz” em latim — surgiu de forma espontânea.
“Quando estava escrevendo a descrição da nova espécie, eu assistia à série Lucifer. O nome simplesmente se encaixou”, contou a pesquisadora em comunicado.
Apesar da aparência assustadora, os chifres provavelmente têm funções práticas. Os cientistas acreditam que eles ajudam as abelhas fêmeas a coletar pólen, néctar e resinas para a construção de ninhos, além de possivelmente servir como mecanismo de defesa. Já os machos não possuem a estrutura.

Um alerta para a conservação
Após análises de DNA, os pesquisadores confirmaram que a Megachile lucifer não correspondia a nenhuma espécie já catalogada. A descoberta reforça a urgência em mapear e proteger as abelhas nativas australianas, muitas delas ainda desconhecidas da ciência.
A Austrália abriga cerca de 2 mil espécies de abelhas nativas, mas mais de 300 ainda não foram oficialmente descritas, segundo dados da CSIRO, a agência nacional de ciência do país.
O pesquisador Tobias Smith, da Universidade de Queensland, que não participou do estudo, destacou que as abelhas australianas são “pouco estudadas e carecem de dados básicos sobre conservação”.
“Sem saber quais espécies existem e de quais plantas dependem, corremos o risco de perder ambas antes mesmo de perceber sua importância”, alertou Smith.
A descoberta da “abelha Lúcifer” é mais um exemplo da biodiversidade singular da Austrália — e também um lembrete dos desafios de preservá-la em meio às mudanças climáticas e à degradação de habitats.




