O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu o mercado internacional nesta quinta-feira (20) ao assinar um decreto que suspende as tarifas de 40% aplicadas desde julho sobre diversos produtos agrícolas importados do Brasil — entre eles café, carne bovina, cacau e frutas.
A medida, que reverte um dos tarifaços mais duros já impostos ao país, é retroativa e vale para todas as mercadorias que chegaram aos EUA a partir de 13 de novembro, data de uma reunião em Washington entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
As tarifas haviam sido colocadas em vigor em julho, como forma de pressionar o Brasil em meio ao processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político de Trump. Agora, a Casa Branca dá um giro de 180 graus em sua política comercial, em meio à escalada dos preços de alimentos que ajudou a derrubar a popularidade do republicano para o nível mais baixo desde seu retorno ao poder.
Impacto imediato
Segundo analistas, a decisão deve ter impacto imediato sobre os preços internos dos EUA. O país é o maior consumidor de café do mundo, e cerca de um terço do que bebe vem do Brasil. As tarifas contribuíram para que o preço do café no varejo americano subisse até 40% em 2025.
A suspensão já deve destravar milhares de sacas armazenadas em bonded warehouses, depósitos onde os importadores deixaram o café para evitar pagar os impostos enquanto aguardavam uma revisão — agora confirmada.
“Você pode esperar que milhares de sacas comecem a se movimentar rapidamente para os torrefadores americanos”, disse Judith Ganes, presidente da J. Ganes Consulting.
O setor de carne também comemora. A ABIEC afirmou que a medida comprova “a efetividade das negociações comerciais” e que seguirá atuando para ampliar a presença da carne brasileira no mercado americano, especialmente para hambúrgueres.
A diplomacia pesou — mas inflação americana falou mais alto
Trump citou expressamente, no decreto, a ligação telefônica que teve com Lula em 6 de outubro, quando ambos concordaram em iniciar novas negociações. O presidente dos EUA também mencionou recomendações de autoridades americanas favoráveis à suspensão da sobretaxa diante do “progresso inicial” da conversa bilateral.
O governo brasileiro celebrou. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o episódio demonstra que “ninguém respeita quem não se respeita”.
Já parlamentares da oposição afirmaram que a decisão de Trump foi motivada principalmente pela necessidade urgente de reduzir a inflação nos EUA, e não por mérito da diplomacia brasileira. A Reuters/Ipsos já havia apontado o aumento dos preços dos alimentos como um dos principais fatores da queda da aprovação do governo Trump.
Apesar da reversão, a Casa Branca deixou aberta a possibilidade de reativar tarifas no futuro. Trump determinou que o secretário de Estado Marco Rubio monitore as condições que motivaram o tarifaço inicial — entre elas, as sanções impostas por Washington a autoridades brasileiras envolvidas na condenação de Bolsonaro.




