A partir do verão de 2026, pesquisadores da Universidade de Oxford e da University College London (UCL) darão início ao primeiro ensaio clínico em humanos da LungVax, a primeira vacina preventiva do mundo contra o câncer de pulmão. O estudo, financiado com até £2,06 milhões (cerca de R$ 13 milhões) pela Cancer Research UK e pela CRIS Cancer Foundation, marca um avanço inédito na imunoprevenção do câncer.
Diferentemente das vacinas terapêuticas — aplicadas após o diagnóstico —, a LungVax busca impedir que o tumor surja, treinando o sistema imunológico para identificar e destruir células pulmonares que começam a apresentar mutações precoces.
Essas células carregam proteínas consideradas “bandeiras vermelhas”, os neoantígenos, que surgem quando o DNA sofre alterações capazes de iniciar um câncer. A LungVax usa a plataforma viral ChAdOx2, a mesma tecnologia base da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19, para entregar às células um conjunto de instruções genéticas que ativa o sistema imune contra esses sinais iniciais.
A estratégia cria uma espécie de vigilância contínua, explicou a oncologista Sarah Blagden, cofundadora do projeto:
“LungVax é nossa chance de agir antes que a doença apareça. Anos de pesquisa sobre os estágios iniciais do câncer agora serão colocados à prova.”
Quem participará dos testes
O estudo ocorrerá em duas frentes:
- Pacientes que já tiveram câncer de pulmão em estágio inicial e tiveram o tumor removido — grupo com risco elevado de recidiva.
- Pessoas em acompanhamento no programa de triagem do NHS, no Reino Unido, consideradas de alto risco.
A fase 1 vai avaliar:
- A melhor dosagem da vacina;
- Possíveis efeitos colaterais;
- A resposta imunológica dos participantes.
Mariam Jamal-Hanjani, líder do ensaio clínico, destacou a urgência:
“Menos de 10% dos pacientes com câncer de pulmão sobrevivem por 10 anos ou mais. Essa realidade só mudará se atacarmos a doença em seu estágio mais precoce.”
Por que a pesquisa é considerada histórica
O câncer de pulmão segue como o câncer que mais mata no mundo há três décadas, e é notoriamente difícil de detectar cedo. No Reino Unido, são cerca de 48,5 mil novos casos por ano.
Embora 72% dos diagnósticos estejam ligados ao tabagismo, a doença também avança entre não fumantes — como o escocês Graeme Dickie, que colabora com a preparação do ensaio. Diagnosticado aos 42 anos, ele já passou por cirurgias, 80 sessões de quimioterapia e novas terapias-alvo.
“Sou a prova de que pesquisa salva vidas”, disse Graeme. “Não vou me beneficiar da LungVax, mas sei que meu caso ajudará outros no futuro.”
Um primeiro passo, mas ainda longo
Apesar do entusiasmo, especialistas ressaltam que a LungVax está apenas no início do percurso. Caso a fase 1 apresente segurança e resposta imune satisfatórias, a vacina poderá avançar para ensaios maiores nos próximos anos.
Michelle Mitchell, CEO da Cancer Research UK, reforçou:
“Estamos diante de uma oportunidade real de prevenir o câncer antes que ele comece. O ensaio da LungVax é um passo fundamental rumo a um futuro com menos mortes.”
Lola Manterola, cofundadora da CRIS, completou:
“Pela primeira vez, podemos imaginar impedir o surgimento do câncer.”
