Cientistas identificaram evidências de que o cometa interestelar 3I/ATLAS — apenas o terceiro objeto desse tipo já registrado — pode estar coberto por vulcões de gelo em atividade. A descoberta ocorreu durante sua aproximação ao Sol, quando telescópios detectaram jatos de gás, partículas de poeira e gelo sendo expelidos da superfície. As observações foram divulgadas em um estudo publicado em 24 de novembro no repositório científico arXiv.
As explosões foram registradas quando o cometa atingiu cerca de 378 milhões de quilômetros do Sol, iniciando um processo de sublimação mais intenso que o habitual. O fenômeno foi capturado pelo telescópio Joan Oró, no Observatório de Montsec, na Catalunha, que obteve as imagens mais detalhadas do objeto até o momento.
Segundo os autores, o comportamento do 3I/ATLAS sugere a presença de criovulcões — estruturas semelhantes a vulcões, mas que liberam vapor, gelo e poeira em vez de lava. Esse tipo de atividade é comum em corpos gelados localizados além de Netuno, como planetas-anões e objetos transnetunianos.
“Ficamos todos surpresos. Sendo um cometa formado em um sistema planetário remoto, é notável que a mistura de materiais em sua superfície se assemelhe à de objetos transnetunianos do nosso próprio sistema”, afirmou o líder do estudo, Josep Trigo-Rodríguez, pesquisador do Instituto de Ciências do Espaço (CSIC/IEEC), em entrevista ao Live Science.
PRE-PERIHELION STUDY OF #COMET #3IATLAS with our findings about its spectroscopic similitude with CR carbonaceous chondrites. Manuscript submitted for publication in which we propose it is a #TNO-like body experiencing #cryovolcanismNow in Cornell Univ. @arxiv repository:➡️ arxiv.org/abs/2511.19112
As análises indicam que o 3I/ATLAS tem entre 7 e 14 bilhões de anos, idade muito superior aos 4,5 bilhões de anos do Sistema Solar. Isso significa que o objeto pode carregar pistas valiosas sobre as condições presentes em regiões estelares antigas — e talvez sobre os processos de formação planetária em outros sistemas.
Apesar de teorias que circularam online sugerindo que o cometa pudesse ser uma nave alienígena, os astrônomos reafirmam que os dados observacionais são compatíveis com um objeto natural.
“Ele oferece uma oportunidade única para estudar materiais formados fora do nosso sistema, antes mesmo de o Sol existir”, destacou Trigo-Rodríguez.
Corrida contra o tempo antes que o cometa parta
Descoberto em julho, o 3I/ATLAS está de passagem temporária pelo Sistema Solar e deve partir definitivamente no próximo ano. Por isso, pesquisadores de diferentes países estão concentrando esforços para coletar o máximo de informações possível antes que o visitante interestelar desapareça rumo ao espaço profundo.
Os dados recém-divulgados ainda não foram revisados por pares, mas reforçam a possibilidade de que o cometa compartilhe características estruturais e químicas com objetos gelados da periferia do Sistema Solar — mesmo vindo de muito mais longe.
Jornalista em formação pela Universidade de Taubaté (UNITAU), colunista de conteúdo social e opinativo. Apaixonado por cinema, música, literatura e cultura regional.