O dia 5 de novembro de 2015 marcou para sempre a história ambiental do Brasil. Às 16h20, a Barragem do Fundão, da mineradora Samarco — controlada por Vale e BHP — rompeu-se e liberou 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, provocando o maior desastre ambiental já registrado no país em volume de rejeitos despejados na natureza.
A enxurrada de lama varreu em minutos o distrito de Bento Rodrigues, a 8 km do local, destruindo casas, memórias e vidas. Dezenove pessoas morreram. Em apenas 15 minutos, o povoado de 620 moradores deixou de existir. Hoje, restam ruínas.
Por 16 dias, a lama contaminada avançou pelos 853 km do Rio Doce, afetando 39 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo e impactando a vida de 1,2 milhão de pessoas. Houve escassez de água, prejuízos ao turismo, perda de renda de pescadores, destruição de ecossistemas e mais de 2 mil hectares de terras ficaram inutilizados para plantio.
A onda de rejeitos atingiu a foz do rio em 21 de novembro, espalhando-se por um raio de 80 km no mar e provocando danos severos à indústria pesqueira e às comunidades tradicionais.

10 anos depois: reparação incompleta e processos sem desfecho
Uma década após a tragédia, a justiça brasileira ainda não deu uma resposta final.
Em novembro de 2024, a Justiça Federal absolveu a Samarco, a Vale, a BHP e todos os réus, alegando falta de provas de condutas individuais que levaram ao rompimento.
O Ministério Público Federal recorreu, afirmando que havia omissões organizacionais graves e que dirigentes tinham plena ciência dos riscos de liquefação da barragem. O recurso ainda não foi julgado, e parte dos crimes já prescreveu.
O MPF pede responsabilização de seis ex-dirigentes:
Ricardo Vescovi, Kleber Terra, Germano Lopes, Wagner Alves, Daviély Silva e Samuel Paes Loures.
Indenizações e acordos de reparação
Em outubro de 2024, mineradoras e governos firmaram novo acordo de R$ 170 bilhões para reparação socioambiental.
Desses, R$ 32 bilhões ficaram sob execução direta da Samarco. A empresa afirma ter pago R$ 14 bilhões em indenizações e auxílios. A Fundação Renova registrava R$ 18,1 bilhões executados até setembro de 2024.
Mesmo assim, comunidades atingidas — como Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira — dizem que o reassentamento é lento e que a reparação não corresponde à magnitude da tragédia.
Avanço no exterior: Justiça inglesa condena a BHP
Enquanto no Brasil o processo patina, no Reino Unido houve um marco.
Em dezembro de 2024, a Justiça da Inglaterra condenou a BHP em uma ação coletiva movida por 620 mil atingidos, incluindo moradores, empresas, municípios e instituições religiosas.
Os autores reivindicam cerca de R$ 230 bilhões em indenizações. A decisão reconhece a responsabilidade da empresa, embora o valor final ainda não tenha sido definido.
Trata-se do maior processo internacional já analisado sobre um desastre socioambiental brasileiro.
A ferida ainda aberta
Dez anos depois, o desastre de Mariana continua sendo uma ferida aberta na história ambiental, social e jurídica do Brasil.
A lama secou, mas deixou marcas profundas: comunidades deslocadas, pescadores sem sustento, áreas contaminadas e uma longa disputa judicial que parece longe do fim.
O colapso da barragem de Fundão não apagou apenas um distrito — expôs um modelo de mineração marcado por fragilidades, omissões e falta de fiscalização. E, para milhares de atingidos, a reconstrução segue em curso, lenta, fragmentada e, para muitos, insuficiente.




