O presidente dos Estados Unidos Donald Trump apresentou uma proposta para que o país assumisse o controle da Faixa de Gaza, território palestino classificado como o mais perigoso do mundo segundo o ranking da organização internacional ACLED. A iniciativa, que previa uma reconfiguração completa da região após a guerra entre Israel e o Hamas, foi rejeitada por países árabes e não avançou no cenário diplomático.
Reunidos no Cairo no início do mês, líderes da Liga Árabe aprovaram um plano próprio para a reconstrução da Faixa de Gaza e o retorno da Autoridade Palestina ao comando do território. A proposta foi apresentada como uma resposta direta ao plano defendido por Donald Trump, que previa a administração de Gaza pelos Estados Unidos.
No encontro, os países árabes alertaram para o que classificaram como “tentativas imorais” de deslocamento forçado da população palestina e defenderam a unificação política dos palestinos sob a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), excluindo o grupo Hamas, considerado terrorista por diversos países.
De acordo com dados da ACLED (Armed Conflict Location & Event Data Project), a Palestina figura atualmente entre os territórios com maior nível de violência do planeta, sendo classificada como o mais perigoso do mundo no ranking mais recente. Mesmo com quedas pontuais no número de mortes após cessar-fogos em Gaza, o conflito segue entre os principais responsáveis pela violência global.
Entre dezembro de 2024 e novembro de 2025, a ACLED registrou mais de 204 mil eventos de conflito no mundo, resultando em, pelo menos, 240 mil mortes. Os conflitos na Palestina e na Ucrânia responderam por mais de 40% desses episódios.
O plano árabe de reconstrução
Segundo o projeto apresentado pelo Egito e obtido pela agência AFP, a reconstrução de Gaza exigiria investimentos de cerca de US$ 53 bilhões (R$ 310 bilhões) ao longo de cinco anos — estimativa alinhada a projeções da Organização das Nações Unidas (ONU). Para viabilizar a iniciativa, os líderes árabes concordaram em criar um fundo internacional e pediram apoio financeiro da comunidade global.
A proposta, no entanto, enfrenta resistência de Israel, que afirma ter como objetivo eliminar o Hamas e rejeita a volta da Autoridade Palestina ao controle da Faixa de Gaza. Estados Unidos e Israel também já manifestaram oposição formal ao plano árabe.

O plano defendido por Donald Trump gerou forte reação internacional. A proposta previa que os EUA assumissem o controle de Gaza, com a remoção dos cerca de 2,4 milhões de palestinos do território e a transformação da região em uma espécie de “Riviera do Oriente Médio”.
Trump chegou a divulgar um vídeo produzido com inteligência artificial que mostrava resorts de luxo e estátuas douradas em sua homenagem, cenário visto por críticos como irreal e descolado da crise humanitária vivida na região.
Interesses econômicos na reconstrução
Além da disputa política, a reconstrução de Gaza também desperta interesses econômicos. Reportagem do jornal The Guardian aponta que aliados do entorno de Trump e empresas ligadas ao Partido Republicano disputam espaço para atuar na logística e nas obras de reconstrução do território, estimadas pela ONU em até US$ 70 bilhões.
Segundo o jornal britânico, a Casa Branca chegou a criar uma força-tarefa paralela para Gaza, liderada por nomes como Jared Kushner, Steve Witkoff e Aryeh Lightstone, com discussões sobre ajuda humanitária e projetos de reconstrução pós-guerra.




