O reajuste do salário mínimo em 2025 pegou muitos brasileiros de surpresa. Com valor fixado em R$ 1.518, um aumento de R$ 106 em relação ao ano anterior, o novo piso nacional teve um crescimento de 7,5%, superando a inflação do período. No entanto, o que parece um ganho real para o trabalhador esconde mudanças profundas e estratégicas na fórmula de cálculo, com impactos que vão muito além do bolso imediato.
A principal alteração está na introdução de um teto para o aumento de despesas públicas, limitado a 2,5%, mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha crescido mais que isso — como é o caso de 2025, quando a economia avançou 3,2%. Essa limitação significa que, ainda que o país esteja em um momento de expansão, o reajuste do salário mínimo pode ser freado por critérios fiscais.
Novo Cálculo
A nova fórmula mantém dois pilares já conhecidos: a reposição da inflação pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e a variação do PIB de dois anos anteriores. A diferença agora é a trava fiscal, que impede aumentos que ultrapassem o limite estipulado, com o objetivo de conter os gastos da União.
Essa mudança impacta diretamente não apenas os trabalhadores da ativa, mas também milhões de aposentados e beneficiários de programas sociais vinculados ao salário mínimo, como os pagamentos do INSS. Qualquer reajuste no piso nacional pressiona as contas públicas, o que exige equilíbrio entre justiça social e sustentabilidade fiscal.
Salário Mínimo 2026
O desafio fiscal se projeta para os próximos anos. Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026, o salário mínimo deve chegar a R$ 1.630, ao mesmo tempo em que o governo federal prevê um superávit de R$ 34,3 bilhões. Para alcançar essa meta, há previsão de forte corte nas despesas discricionárias até 2029 — incluindo investimentos e emendas parlamentares. A partir de 2027, os gastos com precatórios voltarão a contar na meta fiscal, aumentando ainda mais a pressão sobre o orçamento.
Se por um lado a medida ajuda a conter a inflação e preservar a estabilidade econômica, por outro, ela pode comprometer o poder de compra da população em momentos de crescimento. Com o consumo impactado, o próprio ritmo da economia pode ser afetado.
O novo modelo de reajuste do salário mínimo é, portanto, uma tentativa de conciliação entre responsabilidade fiscal e valorização do trabalho. A fórmula, ainda recente, deverá ser testada ao longo dos próximos anos — e, diante de seus efeitos, possivelmente ajustada. O equilíbrio entre crescimento econômico, justiça social e controle das contas públicas segue como um dos maiores desafios da política econômica brasileira.