Desde a sua criação, em 2019, o saque-aniversário do FGTS conquistou a adesão de milhões de brasileiros com a promessa de flexibilidade financeira. A ideia parece simples e atraente: sacar, uma vez ao ano, uma parte do saldo disponível no fundo, justamente no mês de aniversário do trabalhador. No entanto, especialistas e o próprio governo vêm alertando: a escolha pode ser mais arriscada do que se imagina.
Até fevereiro de 2025, quem optava pelo saque-aniversário perdia automaticamente o direito de retirar o saldo total do FGTS em caso de demissão sem justa causa, recebendo apenas a multa rescisória de 40%. A regra foi criticada por limitar a segurança financeira justamente nos momentos mais críticos da vida profissional.
Com a nova reformulação do programa, o trabalhador que adere à modalidade agora pode sacar o saldo integral do FGTS em caso de demissão — uma mudança que promete maior liberdade. No entanto, essa nova possibilidade ainda será regulamentada por medida provisória, que deve incluir restrições e condições específicas para o saque integral, deixando muitos em alerta.
Críticas e frustrações se acumulam
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou recentemente que espera uma diminuição no número de adesões ao saque-aniversário. Em entrevista à Rádio Gaúcha, ele revelou que trabalhadores se sentiram enganados ao descobrir, após a demissão, que não tinham mais acesso ao fundo.
“Se eu soubesse disso, eu não teria feito, porque eu entrei em uma armadilha. Eu contava com o dinheiro e agora não posso usar” — relatou um dos trabalhadores, segundo Marinho.
Diante desse cenário, o governo estuda ampliar o acesso ao crédito consignado como alternativa mais segura. Uma das propostas prevê que os trabalhadores possam contratar o consignado diretamente, sem depender da adesão do empregador a um convênio com instituições financeiras, o que facilitaria a portabilidade de dívidas e a negociação de taxas menores.
Quando a urgência fala mais alto que a estratégia
A atratividade do saque-aniversário está, muitas vezes, ligada à urgência de quem precisa de recursos imediatos — seja para quitar dívidas, fazer uma compra importante ou lidar com emergências. No entanto, essa decisão pode custar caro a médio e longo prazo, especialmente se ocorrer uma demissão inesperada.
A liberação anual de parte do fundo funciona por meio de uma tabela progressiva: quanto maior o saldo, menor a porcentagem liberada. Ou seja, o valor sacado raramente representa um impacto significativo no orçamento — e pode iludir o trabalhador com uma falsa sensação de liquidez.