A Uber está reconfigurando sua estratégia no Brasil e no mundo. Em um movimento que simboliza uma mudança profunda, a empresa anunciou uma parceria inédita com o iFood — até então seu maior concorrente no setor de entregas. A partir do segundo semestre de 2025, usuários poderão acessar os serviços de uma plataforma dentro do aplicativo da outra.
A aliança foi revelada poucos dias após a Uber comunicar o fim da aba Mercado no Brasil, previsto para 16 de junho. A função permitia compras em supermercados, com frete grátis para assinantes do programa Uber One. A partir de agora, o serviço deixará de existir, e a expectativa é que o iFood passe a absorver essa demanda.

A descontinuidade do Mercado se soma ao histórico de saídas da Uber de segmentos que não são considerados foco da empresa. Em 2020, foram encerradas as operações com patinetes; em 2022, o Uber Eats foi desativado no Brasil. “Se a Amazon é a empresa da entrega para o próximo dia, nós queremos ser da próxima hora”, afirmou o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, em entrevista recente.
Foco no essencial e aposta em parcerias estratégicas
O novo posicionamento da Uber gira em torno de uma diretriz clara: fortalecer o que a empresa faz de melhor — conectar motoristas e passageiros — e firmar parcerias para serviços complementares. Segundo Khosrowshahi, o objetivo é transformar a Uber em um superapp de soluções logísticas em tempo real, sem insistir em operações que não são sua vocação principal.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a companhia mantém o Uber Eats operando com entregas por robôs e carros autônomos, em parcerias com empresas como a Waymo, da Alphabet (controladora do Google).
No Brasil, o executivo reconheceu que o Uber Eats não conseguiu competir com a liderança do iFood. Segundo ele, “barreiras artificiais” impostas pelo concorrente influenciaram a decisão de encerrar o serviço em 2022. A saída, segundo Khosrowshahi, foi uma “lição de humildade” que reforçou a importância de adaptação ao mercado local.
Brasil como prioridade global e expansão do Uber Moto
Apesar de deixar de lado certos serviços, o Brasil continua sendo peça-chave para a Uber. É aqui que está o maior número de viagens realizadas globalmente, com cerca de 1,4 milhão de motoristas e entregadores cadastrados. Desde a chegada da empresa ao país, estima-se que esse público tenha recebido mais de US$ 25 bilhões pela plataforma.
Uma das principais apostas da companhia no país é o crescimento do Uber Moto, serviço de transporte por motocicletas. Para o CEO, a modalidade amplia o acesso ao transporte por aplicativo e oferece uma oportunidade de renda a mais brasileiros.
“O transporte por motos é uma das áreas que mais crescem no mundo, e o Brasil está na vanguarda dessa tendência”, declarou.
Outro pilar estratégico da Uber é a ampliação do time de engenharia no Brasil. A empresa pretende aumentar significativamente sua presença técnica no país, aproveitando o potencial de talentos locais. “Os engenheiros brasileiros são um pouco mais baratos do que os de São Francisco e estão extremamente empenhados em se destacar globalmente”, afirmou o CEO.
A valorização do mercado brasileiro também ficou clara em 2024, quando a empresa abriu 200 vagas para engenheiros no Centro de Tecnologia de São Paulo. No total, a Uber conta com 30 mil funcionários no mundo, sendo 8 mil dedicados à área de engenharia — estrutura que, segundo a empresa, é fundamental para competir com aplicativos locais.




