Em meio a turbulências jurídicas e descontentamento interno, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) elegeu neste domingo (19) o médico e dirigente esportivo Samir Xaud, de 41 anos, como seu novo presidente. Natural de Boa Vista (RR), Xaud assume o cargo após a destituição de Ednaldo Rodrigues, com mandato válido até 2029. A eleição ocorreu na sede da entidade, no Rio de Janeiro, sob protestos e boicotes de parte dos clubes.
Embora fosse o único candidato, Samir não obteve unanimidade. Recebeu 103 dos 141 pontos possíveis – com votos de 26 federações e 20 clubes. O sistema de votação da CBF atribui peso três ao voto das federações, dois aos clubes da Série A e um à Série B.
Além do novo presidente, foram eleitos oito vice-presidentes que compõem a nova diretoria, entre eles nomes de peso como Fernando Sarney, Flávio Zveiter e Michelle Ramalho. O Conselho Fiscal também teve novos membros definidos.
No discurso pós-eleição, Xaud destacou como prioridades a reorganização do calendário nacional, a implantação do fair play financeiro e investimentos na arbitragem. Entre as primeiras medidas anunciadas está a redução das datas dos campeonatos estaduais de 16 para 11 datas a partir de 2026.
Samir também se declarou favorável à criação de uma liga nacional de clubes, acenando a uma das principais demandas atuais do futebol brasileiro.
Com 41 anos e 90 dias, Samir Xaud se torna o mais jovem presidente eleito da CBF desde a fundação. Supera Ricardo Teixeira, que assumiu em 1989 aos 41 anos e 195 dias. Médico por formação, Xaud é filho de Zeca Xaud, presidente da Federação Roraimense de Futebol desde 1975, e assumirá pela primeira vez um cargo de gestão no futebol nacional.
Ele é o oitavo presidente da CBF desde 1979, quando a confederação foi desvinculada oficialmente da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
Crise política, intervenção judicial e bastidores
A eleição ocorre após decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF por suspeita de fraude documental envolvendo uma assinatura do ex-presidente Coronel Antônio Nunes. Embora Ednaldo tenha negado irregularidades, ele desistiu de disputar judicialmente o cargo, abrindo caminho para a renovação na liderança da entidade.
A candidatura de Samir emergiu com o apoio de um bloco de 19 federações estaduais, insatisfeitas com a gestão anterior. O dirigente foi lançado como nome de renovação e acabou sendo abraçado pela maioria das entidades estaduais – 25 das 27 apoiaram sua candidatura. Em contrapartida, clubes ligados à Libra e à Liga Forte Futebol criticaram o processo e boicotaram a eleição, entre eles Corinthians, Flamengo e São Paulo.
Questionamentos e histórico
Apesar do discurso de renovação, o novo presidente já foi alvo de denúncias e polêmicas. Entre elas, uma ação do Ministério Público de Roraima por supostas fraudes em contratos quando dirigia o Hospital Geral do estado, entre 2017 e 2020. A acusação envolve a simulação de serviços médicos e prejuízo estimado de R$ 1,4 milhão. Xaud nega irregularidades e afirma nunca ter sido condenado.
Em 2021, uma clínica de sua propriedade foi contratada pela CBF, o que gerou críticas por ferir o estatuto da entidade. Mais recentemente, uma reportagem apontou tentativa de regularização de uma fazenda em área de proteção ambiental, o que também foi refutado pelo dirigente.