O Japão enfrenta uma onda de cancelamentos e redução de reservas turísticas devido a uma profecia contida em um mangá japonês. A obra The Future I Saw (“O Futuro que Vi”), da autora Ryo Tatsuki, prevê um terremoto devastador em 5 de julho de 2025 e tem assustado turistas do leste asiático, especialmente chineses, tailandeses e hongkongueses, que começaram a adiar ou desistir de suas viagens ao país.
A previsão ganhou força nas redes sociais, impulsionada pela fama da autora, que se tornou conhecida por aparentemente antecipar a tragédia de março de 2011 no nordeste do Japão — quando um terremoto e tsunami mataram milhares de pessoas e causaram o desastre nuclear de Fukushima.
Especialistas alertam que não há base científica para as previsões feitas por Tatsuki ou outros videntes que vêm reforçando o clima de pânico nas redes. O país, localizado no Círculo de Fogo do Pacífico, convive com tremores frequentes, mas segue protocolos rigorosos de prevenção e resposta a desastres.
O que diz a profecia?
Na versão atualizada do mangá, relançada em 2021, Tatsuki relata um sonho em que uma fenda se abre sob o mar entre o Japão e as Filipinas, provocando ondas três vezes maiores que as do tsunami de Tohoku, em 2011. A data mencionada é 5 de julho de 2025.

A artista afirma ter sonhado com outros eventos futuros, como a morte da princesa Diana, a pandemia de Covid-19 e a tragédia de Fukushima, o que fez com que muitos a apelidassem de “Nova Baba Vanga”, em referência à famosa vidente búlgara.
Apesar disso, Tatsuki pediu cautela em entrevista recente ao Mainichi Shimbun:
“É positivo que as pessoas se interessem por prevenção, mas elas não devem se deixar levar demais por sonhos — devem seguir orientações científicas”, disse.
Impacto direto no turismo
Agências de turismo na China continental, Hong Kong, Taiwan e Tailândia relataram quedas de até 80% nas consultas e reservas para viagens ao Japão nos próximos meses. A CLS Holiday, de Hong Kong, afirmou que o número de pedidos caiu drasticamente, especialmente após vídeos e rumores circularem nas redes sociais locais.
A companhia aérea Greater Bay Airlines, com sede em Hong Kong, esperava ocupar 80% dos assentos nos voos para o Japão, mas atingiu apenas 40%, segundo o jornal japonês Asahi.
Na mesma linha, a agência WWPKG, também de Hong Kong, viu suas reservas para o Japão caírem pela metade no período da Páscoa e estima novos recuos até julho.
O governo japonês tem buscado tranquilizar a população e os turistas, enfatizando que não existe tecnologia capaz de prever terremotos com precisão. O gabinete oficial chegou a publicar esclarecimentos nas redes sociais, enquanto autoridades como Yoshihiro Murai, governador da província de Miyagi, criticaram o impacto de “rumores não científicos” sobre o turismo nacional.
“É um problema sério quando boatos altamente especulativos afetam um setor tão importante”, afirmou Murai.
E os números reais?
Apesar da onda de medo, os números gerais do turismo no Japão permanecem fortes. O país recebeu 10,5 milhões de visitantes nos três primeiros meses de 2025, número recorde para o período, segundo a Organização Nacional de Turismo do Japão (JNTO). Só da China continental, foram 2,36 milhões de visitantes, um aumento de 78% em relação ao ano anterior.
Ainda assim, o receio se dissemina. Turistas como Samantha Tang, professora de ioga em Hong Kong, decidiram adiar a viagem marcada para agosto. “Dizem tanto sobre esse terremoto que prefiro esperar”, contou. Já outros, como Vic Shing, também de Hong Kong, seguem com planos intactos: “O Japão já enfrentou grandes terremotos antes e sabe lidar com isso. Estou tranquilo”.