Uma imensa ilha submersa, com proporções comparáveis às da Islândia, foi identificada no fundo do Oceano Atlântico, a 1.200 quilômetros da costa do Rio Grande do Sul. Conhecida como Elevação do Rio Grande (ERG), a formação, que hoje repousa a 650 metros abaixo da superfície, já esteve acima do nível do mar há cerca de 40 a 50 milhões de anos, segundo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
A descoberta, resultado de uma década de pesquisas geológicas e oceanográficas, revela que a ERG era uma ilha tropical vulcânica, coberta por florestas e cercada por recifes. Essa antiga paisagem insular, que se formou durante o Eoceno, teria sido erodida naturalmente com o tempo e recoberta por sucessivos fluxos de lava, criando as camadas geológicas observadas atualmente. A confirmação veio após análises de amostras de argila vermelha fossilizada, recolhidas em expedições a bordo dos navios Alpha Crucis, da USP, e Discovery, do Reino Unido.
Com picos que ultrapassam os 4 mil metros de altura e cânions profundos que chegam a 4.800 metros, a estrutura cobre uma área de 500 mil km² — maior que a Espanha. Sua semelhança geológica com solos tropicais do interior paulista reforça a hipótese de que partes da ERG estiveram expostas à atmosfera terrestre. Embora não estivesse conectada diretamente ao continente, a ilha compartilhou clima e características com o território brasileiro da época.
Além da relevância científica, a Elevação do Rio Grande desperta grande interesse estratégico e econômico. Estudos indicam que a região é rica em minerais de alto valor, como ferro-manganês, cobalto, níquel, platina e selênio — insumos fundamentais para indústrias de alta tecnologia, como baterias, eletrônicos e energia renovável.
Hoje, a ERG está sob jurisdição internacional, mas o Brasil já formalizou à Organização das Nações Unidas (ONU) um pedido de anexação da área como parte de sua plataforma continental. Se aprovado, o país poderá ampliar sua Zona Econômica Exclusiva e consolidar a região como parte da chamada “Amazônia Azul” — uma extensão estratégica de território marítimo com potencial econômico e ambiental incalculável.
A pesquisa, intensificada entre 2023 e 2024, não apenas reescreve parte da história geológica da América do Sul, como também projeta o Brasil como protagonista em um novo cenário global: o da mineração oceânica de alto valor agregado. Com a Elevação do Rio Grande, o país pode estar diante de um “tesouro submerso” com impacto duradouro na ciência, soberania e economia nacional.