Depender apenas do INSS para garantir uma aposentadoria tranquila deixou de ser a única opção para muitos brasileiros — principalmente os mais jovens. Com a expectativa de vida em alta e sucessivas reformas previdenciárias que tornam o acesso ao benefício mais restritivo, cresce o número de trabalhadores que recorrem à previdência privada e outros investimentos de longo prazo como forma de se preparar para o futuro.
O modelo atual do INSS funciona em regime de repartição, em que os trabalhadores da ativa financiam os benefícios dos aposentados. No entanto, o envelhecimento populacional e a queda na taxa de natalidade têm pressionado o sistema.
De acordo com o IBGE, a expectativa de vida no Brasil é de 76,4 anos, e a tendência é de envelhecimento acelerado. Na prática, isso significa mais idosos recebendo e menos jovens contribuindo. Desde a Constituição de 1988, o país já passou por sete reformas previdenciárias — todas endurecendo regras e reduzindo benefícios.
Uma pesquisa do Serasa mostra que 70% dos brasileiros acreditam que o valor da aposentadoria pública não será suficiente para manter o padrão de vida na velhice.
A ascensão da previdência privada
Segundo a consultoria Mercer, 53% das médias e grandes empresas brasileiras já oferecem planos de previdência privada a seus funcionários, muitas vezes com contrapartida da própria companhia. Ao todo, 11,2 milhões de pessoas possuem algum tipo de plano, entre individuais e coletivos, de acordo com a Fenaprevi.
Para o diretor-executivo da Mercer, Thiago Calçada, o movimento reflete uma mudança geracional:
“As novas gerações viram os mais velhos enfrentando dificuldades na aposentadoria. Hoje, a percepção de que o INSS não será suficiente é cada vez mais clara. Planejamento financeiro se tornou essencial”, afirma.
Como funciona e quais os cuidados
A previdência privada exige disciplina e visão de longo prazo. As contribuições podem ser mensais ou flexíveis, e o resgate ocorre após alguns anos, em forma de saque único ou renda complementar. Especialistas recomendam manter os aportes por pelo menos 8 a 10 anos para que o retorno seja significativo.
Segundo a educadora financeira Cintia Senna, a estratégia ideal é optar por renda por prazo definido em vez da vitalícia, garantindo que os beneficiários recebam o saldo em caso de falecimento precoce do titular.
Além da previdência, analistas indicam que os jovens diversifiquem suas carteiras com renda fixa, fundos imobiliários e até ativos internacionais, ampliando a segurança financeira para o futuro.
Complemento, não substituição
Especialistas reforçam que a previdência privada não substitui o INSS, mas serve como complemento. Enquanto a contribuição pública assegura um piso mínimo e benefícios como auxílio-doença, a previdência complementar pode garantir manutenção do padrão de vida após a aposentadoria.
Em um país onde 58% dos idosos afirmam não ter conseguido se planejar financeiramente, segundo pesquisa recente, a nova geração aposta em uma fórmula simples: não depender apenas do governo e assumir o controle da própria aposentadoria.