A calvície, fenômeno amplamente associado aos humanos, também pode atingir animais de grande porte, como os leões. Um estudo conduzido em 2006 por Bruce Patterson — hoje curador emérito de mamíferos do Museu Field, em Chicago — revelou que o clima tem papel determinante na densidade e extensão da juba dos leões, e que a perda de pelos pode ocorrer em ambientes de altas temperaturas.
Patterson analisou leões em 17 zoológicos nos Estados Unidos e descobriu que, quanto mais frio o ambiente, mais longa e densa era a juba dos felinos. Segundo o pesquisador, a temperatura ambiente pode ser responsável por até 50% da densidade da crina, enquanto fatores genéticos também contribuem para as diferenças entre os animais.
Humanos também perderam seus pelos — mas os genes ainda estão lá
A perda de pelos não é exclusividade dos grandes felinos. Os humanos, por exemplo, também passaram por um processo evolutivo de redução da densidade de pelos corporais, embora mantenham os genes necessários para o crescimento capilar completo.
Um estudo liderado por pesquisadores das universidades de Utah e Pittsburgh, publicado na revista eLife, comparou os códigos genéticos de 62 espécies de mamíferos — de humanos a esquilos — para investigar os fatores genéticos por trás da falta de pelos.
O resultado revelou que os humanos ainda carregam todos os genes necessários para um corpo coberto de pelos, mas muitos deles estão desativados ou silenciados ao longo da evolução.
Tsavo: os leões sem juba que inspiraram o estudo
O interesse de Patterson pelo tema surgiu após analisar os célebres leões de Tsavo, no Quênia, conhecidos por caçar e matar mais de 130 pessoas no fim do século XIX. Diferente da imagem tradicional do leão com juba imponente, esses exemplares eram completamente desprovidos de pelos na cabeça e pescoço. Os animais foram abatidos e seus corpos enviados ao Museu Field, onde décadas depois chamaram a atenção do pesquisador.
A condição atípica dos leões de Tsavo levou à hipótese de que o calor extremo da região poderia inibir o crescimento da juba. Afinal, manter uma crina espessa consome energia e, em ambientes quentes, ela deixa de ser uma vantagem térmica para se tornar um incômodo fisiológico.
Suor, resistência e vantagem evolutiva
Mas por que perdemos esses pelos? Uma das hipóteses mais aceitas envolve a eficiência do sistema de resfriamento do corpo humano. Ao contrário de outros mamíferos, os seres humanos possuem uma grande quantidade de glândulas sudoríparas, o que favorece o resfriamento do corpo através da evaporação do suor.
Essa característica teria sido crucial para os nossos ancestrais que viviam em savanas africanas, permitindo caçadas de longa duração sob o sol escaldante — uma tática conhecida como “caça por persistência”. Sem uma pelagem espessa, o corpo conseguia dissipar melhor o calor, oferecendo vantagem física em ambientes hostis.