Os Correios atravessam a pior crise financeira de sua trajetória recente. A estatal, que já chegou a dominar mais da metade do mercado de encomendas no país, acumulou R$ 7,5 bilhões em prejuízo desde 2023 e perdeu competitividade diante de transportadoras privadas e das gigantes de e-commerce. Agora, a empresa se prepara para implementar o maior processo de transformação de sua história, uma tentativa urgente de evitar a quebra e recuperar relevância.
A deterioração ficou evidente em 2024, quando um site de e-commerce comparou preços de frete em todo o país. Em 16 dos 27 estados — incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que concentram os maiores volumes de entrega — os concorrentes eram mais baratos que os Correios para envios convencionais.
A queda de competitividade se refletiu diretamente na participação de mercado: o setor de encomendas, responsável por metade das receitas da empresa, encolheu de 52% em 2018 para apenas 26% em 2023. Enquanto isso, empresas como JadLog, Loggi, Amazon e Mercado Livre expandiram operações, especialmente nos trechos mais lucrativos dos grandes centros urbanos.
Em meio ao agravamento da situação, o então presidente Fabiano Silva deixou o cargo, enquanto a estatal negociava um empréstimo emergencial de R$ 20 bilhões com Caixa, Banco do Brasil e bancos privados — montante considerado indispensável para evitar o colapso.
Socorro bilionário e reestruturação radical
O plano apresentado prevê a liberação de R$ 10 bilhões em 2025 e outros R$ 10 bilhões em 2026, com expectativa de que os primeiros efeitos de recuperação só apareçam em 2027. Para garantir o empréstimo, o Tesouro Nacional terá que abrir uma exceção, já que os Correios não têm capacidade de pagamento — e, pela Constituição, o governo federal é obrigado a manter o serviço postal.
A estatal afirma estar implementando ações emergenciais e estratégicas para alcançar reequilíbrio econômico, modernização operacional e sustentabilidade de longo prazo. As medidas incluem:
- Novo PDV com meta de desligamento de 10 mil funcionários;
- Fechamento de cerca de 700 agências e unidades logísticas;
- Desinvestimento em ativos e revisão de contratos;
- Corte de despesas administrativas e operacionais;
- Revisão de benefícios trabalhistas e renegociação do acordo coletivo.
A redução da folha salarial é vista como crucial: a estatal quer diminuir custos em R$ 2 bilhões por ano. No último PDV, apenas 3,6 mil dos 8 mil interessados concluíram o desligamento, e a nova gestão planeja oferecer condições mais agressivas para atingir a meta.
Venda, aluguel e reinvenção: o novo modelo dos Correios
Um dos pilares da reestruturação é a criação de um fundo imobiliário com os 2.366 imóveis da empresa, avaliados em R$ 5,4 bilhões. A estratégia: vender os imóveis ao fundo, obter recursos e depois alugá-los. Até mesmo o prédio da sede em Brasília pode entrar no pacote.
Outra mudança profunda acontecerá na operação. Os Correios querem:
- automatizar centros de triagem e distribuição;
- eliminar unidades com sobreposição territorial;
- adotar ferramentas de inteligência para avaliar rentabilidade por agência;
- readequar a estrutura interna e cortar áreas com mão de obra ociosa.
Apostando em novos serviços para disputar espaço no mercado
Além dos cortes, a empresa reconhece que será necessário aumentar receitas e se reposicionar frente aos concorrentes, que deixaram de ser apenas empresas de entrega e se transformaram em grandes ecossistemas tecnológicos.
Para isso, os Correios apostam em novos produtos e frentes de atuação:
- Marketplace Mais Correios, que será reformulado;
- Caixa postal online certificada, para substituir parte das cartas físicas;
- Logística especializada para o governo, incluindo transporte de medicamentos e vacinas com controle de temperatura;
- Parcerias com empresas inovadoras, como tecnologias de identificação impressa em caixas de envio;
- Busca por nichos onde gigantes como Amazon e Mercado Livre não atuam.
Segundo a gestão atual, essas medidas compõem a maior mudança estrutural já planejada para a estatal, que pretende criar um novo ecossistema de negócios, mais moderno e competitivo.




