Pela primeira vez, cientistas registraram atividade elétrica na atmosfera de Marte, um fenômeno até então apenas teorizado. Dados do rover Perseverance, da NASA, revelaram que o planeta vermelho produz descargas semelhantes a “mini-raios”, detectadas por meio de gravações de áudio e medições eletromagnéticas feitas pelo instrumento SuperCam.
A descoberta, publicada na revista Nature, coloca Marte no seleto grupo de planetas com atividade elétrica confirmada — até agora limitado à Terra, Júpiter e Saturno.
Os registros foram analisados por uma equipe da Universidade de Toulouse, na França, liderada pelo cientista Baptiste Chide, que identificou 55 ocorrências de descargas elétricas ao longo de duas “primaveras marcianas”, equivalentes a 1.374 dias terrestres.

Segundo Chide, os sinais ocorreram durante redemoinhos de poeira (dust devils) e frentes de tempestades — fenômenos comuns no clima marciano, onde partículas finas são constantemente levantadas e atritadas pelos ventos.
“Essas descargas representam uma descoberta majoritária, com implicações diretas para a química atmosférica, o clima, a habitabilidade e a futura exploração robótica e humana”, afirmou Chide à Reuters.
Diferentemente da Terra, onde raios estão ligados a nuvens carregadas de vapor d’água, em Marte a eletricidade parece surgir da fricção entre partículas de poeira.
Prova sonora, mas ainda não visual
Os sons das descargas foram captados pelo microfone do rover, mas ainda não há registro visual dos raios. O físico de partículas Daniel Pritchard, em artigo de avaliação publicado na Nature, celebrou o avanço, mas ponderou:
“As gravações fornecem evidências fortes de descargas induzidas por poeira. Mas, como os eventos foram apenas ouvidos e não vistos, alguma dúvida inevitavelmente permanecerá.”
Pritchard destacou que a confirmação definitiva pode depender de câmeras mais sensíveis ou novos instrumentos atmosféricos em futuras missões.

Descoberta reforça busca por sinais de vida antiga
A detecção de eletricidade se soma a outro achado intrigante divulgado recentemente: rochas com padrões apelidados de “leopard spots” e “poppy seeds”, que contêm minerais associados a reações químicas possivelmente ligadas a antigos microrganismos.
A NASA afirma que tais formações podem ser os sinais mais claros de vida já encontrados em Marte, embora processos geológicos naturais também possam explicá-las.
Hoje, Marte é um deserto frio e seco, mas há evidências de que, bilhões de anos atrás, o planeta teve atmosfera densa e água líquida — condições essenciais para a vida.




