A vida dos vendedores ambulantes nas praias do Rio de Janeiro virou um verdadeiro pesadelo após a decisão da prefeitura de manter a proibição de trabalhadores não autorizados na orla. Mesmo depois de o prefeito Eduardo Paes (PSD) ter recuado em parte do decreto de ordenamento urbano, flexibilizando regras para quiosques e barraqueiros, os camelôs que circulavam pelas areias continuaram sem espaço para trabalhar.
Publicada em 16 de maio, a medida manteve a proibição total da atividade dos ambulantes não cadastrados pela prefeitura ao longo de toda a orla marítima. Enquanto donos de quiosques e músicos voltaram a ter autorização para usar aparelhos de som, vender bebidas em garrafas de vidro e promover apresentações ao vivo entre 12h e 22h, os trabalhadores informais seguiram à margem das negociações.
A decisão provocou uma série de manifestações nas praias da zona sul, especialmente em Copacabana, onde centenas de vendedores protestaram contra o decreto. O Sindicato dos Trabalhadores Informais (Sindinformal) afirmou que o recuo parcial da prefeitura só aconteceu por causa da pressão exercida durante o ato realizado na Avenida Atlântica.
Ambulantes organizam propostas e resistem
Diante da exclusão do grupo nas negociações, o Movimento Unido dos Camelôs (Muca) ocupou a Câmara Municipal do Rio no fim de maio, exigindo a criação de um grupo de trabalho com participação direta dos trabalhadores. A coordenadora do movimento, Maria de Lurdes do Carmo, anunciou que os ambulantes começaram a elaborar propostas de adequação às normas sanitárias e de segurança, incluindo o uso de pratinhos em vez de palitos, extintores de incêndio nos carrinhos e melhor estrutura para manipulação de alimentos.
“A gente quer trabalhar dentro das regras. O povo brasileiro é inteligente e sabe se organizar”, afirmou Carmo em vídeo divulgado nas redes sociais.
A primeira reunião do grupo de trabalho foi marcada para o dia 30 de maio, com o compromisso do presidente da Câmara, Carlos Caiado (PSD), de encaminhar as propostas ao Executivo.
O impacto sobre o sustento das famílias
As novas regras de ordenamento começaram a valer no fim de semana seguinte e atingiram em cheio o sustento de milhares de famílias que dependem do trabalho informal nas praias. Além da questão econômica, a proibição também afeta uma tradição cultural carioca, marcada por vendedores de mate, espetinhos, queijo coalho e milho que fazem parte do cenário da orla.
Para a vereadora Maíra do MST (PT), a medida da prefeitura desconsiderou o papel social desses trabalhadores.
“O Rio de Janeiro tem uma taxa de desemprego acima da média nacional. Não podemos permitir que decisões políticas retirem o sustento de famílias que dependem das areias para viver”, afirmou.
Disputa por espaço e aumento da fiscalização
Mesmo com a proibição, o comércio informal nas praias continuou, agora sob forte repressão da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop). A orla carioca, especialmente em Copacabana, segue marcada por uma intensa disputa de espaço entre vendedores brasileiros e estrangeiros — muitos vindos da Argentina, Uruguai e Chile.




