A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, nesta terça-feira (1), o início dos ensaios clínicos em humanos da vacina contra a gripe aviária desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. O imunizante será testado em 700 voluntários adultos e idosos de cinco cidades brasileiras: Recife, São Paulo, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Belo Horizonte.
A vacina, chamada de influenza monovalente A (H5N8), é considerada estratégica diante da ameaça do vírus H5N1, um subtipo da gripe aviária com taxa de letalidade de quase 50% em humanos. Desde 2003, foram 954 casos em 24 países, com 464 mortes. No Brasil, ainda não há registros da doença em humanos.
A transmissão do vírus ocorre geralmente pelo contato direto com aves infectadas ou com seus excrementos. Apesar da raridade de infecção em humanos, a gripe aviária é monitorada globalmente como potencial causadora de uma nova pandemia.
Como será o teste
O estudo clínico terá duas fases principais:
- Duas doses da vacina ou placebo, com intervalo de 21 dias;
- Divisão por grupos etários: de 18 a 59 anos e acima de 60 anos;
- Cada grupo será monitorado por sete meses, com exames clínicos, bioquímicos e sorológicos, além de análise da resposta imunológica.
O objetivo é verificar a segurança e a eficácia imunológica do imunizante. Segundo o Instituto Butantan, a tecnologia usada é semelhante à das vacinas contra a gripe comum, facilitando sua produção e adaptação.
Produção nacional e resposta emergencial
Segundo o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, a instituição já está preparada para produzir até 30 milhões de doses caso haja um surto que exija resposta imediata.
Além da H5N8, o Butantan também desenvolve vacinas contra os subtipos H5N1 e H7N9. Em caso de emergência, o Instituto afirma que pode adaptar rapidamente a fórmula para novas variantes.
A diretora médica do Instituto, Fernanda Boulos, reforça que qualquer surto durante os testes poderá acelerar a liberação do imunizante, com apoio da Anvisa.
Apesar da ausência de casos humanos, o Brasil já registrou ocorrências em aves comerciais neste ano. Estados como o Rio Grande do Sul estão em alerta após confirmações de infecção em granjas. O Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Agricultura, já estabeleceu um Plano de Contingência Nacional para a doença, que inclui a criação de estoques de vacinas e insumos emergenciais.