Uma faixa instrumental de oito minutos, criada por uma banda britânica, ganhou fama mundial por um motivo curioso: ela seria capaz de induzir o sono e reduzir a ansiedade em até 65%. A música se chama “Weightless”, e foi composta pelo trio Marconi Union, em parceria com especialistas em terapia sonora.
O sucesso começou após um estudo conduzido pela Mindlab International, a pedido da marca Radox Spa, que mediu os efeitos fisiológicos de diferentes canções em 40 voluntários submetidos a situações de estresse. Durante o experimento, os participantes precisavam resolver tarefas sob pressão enquanto ouviam músicas variadas, com sensores monitorando frequência cardíaca, respiração e pressão arterial.
O resultado chamou atenção: “Weightless” superou todas as outras faixas, provocando uma redução de 65% nos níveis de ansiedade e diminuição significativa dos batimentos cardíacos e da pressão arterial.
Os integrantes da Marconi Union afirmam ter usado princípios de neurociência e psicologia da música na composição. O objetivo era criar uma faixa capaz de guiar o corpo e o cérebro a um estado de relaxamento profundo.
A canção começa com 60 batimentos por minuto (BPM) — próximo à frequência cardíaca de uma pessoa em repouso — e, gradualmente, desacelera para 50 BPM, induzindo o ouvinte a acompanhar o ritmo. Esse processo é conhecido como “entrainment”, quando o corpo sincroniza naturalmente suas funções fisiológicas com estímulos externos, como som ou luz.
A estrutura da música também evita mudanças bruscas. Não há refrão, nem picos rítmicos ou melódicos. Pianos suaves, guitarras etéreas e sinos se misturam a sons ambientes da natureza, como água corrente e cantos de pássaros, reforçando a sensação de tranquilidade.
Para Lyz Cooper, fundadora da British Academy of Sound Therapy, “a combinação de frequência, ritmo e textura em ‘Weightless’ cria uma resposta natural de relaxamento no corpo humano”.
Especialistas pedem cautela
Apesar do fascínio, nem todos os pesquisadores concordam que uma música possa ter o mesmo efeito em todas as pessoas.
A professora Kathleen Howland, da Berklee College of Music, afirmou ao site Psychiatrist.com que “não existe uma composição universalmente relaxante”. Segundo ela, a resposta emocional à música é altamente subjetiva, influenciada por preferências pessoais, cultura e experiências de vida.
Ainda assim, Howland reconhece que faixas de ritmo lento, sem surpresas melódicas e com previsibilidade harmônica tendem a produzir uma sensação de conforto e segurança — elementos fundamentais em qualquer música com potencial terapêutico.
Comparações com medicamentos e terapias
Um estudo da Universidade da Pensilvânia comparou seus efeitos a um sedativo pré-operatório e concluiu que ambos reduziram a ansiedade de forma semelhante — com a vantagem de a música não causar efeitos colaterais.
Outra pesquisa, da Universidade de Nevada, observou melhorias na qualidade do sono entre pessoas que ouviram a faixa antes de dormir.
Apesar dos resultados promissores, os autores ressaltam que os estudos são limitados e que mais dados são necessários para equiparar a música a terapias médicas tradicionais.
Independentemente da polêmica, especialistas em musicoterapia reconhecem que sons estruturados de forma adequada podem ativar o sistema nervoso parassimpático, responsável por reduzir o estresse e promover o relaxamento.
Segundo Howland, “quando estamos ansiosos, o funcionamento executivo do cérebro é comprometido, e a música pode ajudar a restaurar o equilíbrio, desviando o foco do medo para o estado de calma”.




