As redes sociais foram tomadas, em julho de 2025, por publicações afirmando que o governo federal “cortou” o Bolsa Família para quase 1 milhão de famílias por meio de mudanças na chamada Regra de Proteção (ou “regra de transição”). Os conteúdos, que ultrapassaram 100 mil compartilhamentos, sugeriam que a política social estaria chegando ao fim ou sendo reduzida drasticamente.
Mas a realidade é bem diferente: o Bolsa Família não vai acabar, e os desligamentos registrados neste mês estão ligados principalmente ao aumento de renda e empreendedorismo dos próprios beneficiários, não a cortes arbitrários.
Por que 900 mil famílias deixaram o programa?
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS):
- 385 mil famílias deixaram de receber porque a renda por integrante superou meio salário mínimo (R$ 759, em 2025).
- 536 mil famílias concluíram o período máximo da Regra de Proteção — 24 meses recebendo o benefício após aumentarem a renda — e foram desligadas de forma natural.
Nenhum desses desligamentos foi causado pelas alterações anunciadas em maio de 2025, que reduziram a duração da Regra de Proteção para 12 meses e o teto de renda por pessoa para R$ 706. Essas novas normas só valem para famílias que entrarem na regra a partir de junho deste ano. Quem já estava dentro antes continuará seguindo o limite de 24 meses e renda de até R$ 759 por integrante.
O que muda com a nova portaria?
Além da redução no período da Regra de Proteção, o governo publicou a Portaria MDS nº 1.100/2025, que dá mais autonomia aos municípios para ajustar o ingresso de novas famílias.
A medida leva em conta a chamada taxa de cobertura — indicador que compara o número de famílias atendidas ao total de famílias em situação de pobreza ou vulnerabilidade no município. Com isso, prefeituras poderão ajustar a habilitação ao programa para priorizar os mais vulneráveis, sempre com base nos dados do CadÚnico e estatísticas oficiais.
O Bolsa Família está mesmo em risco?
Não. Apesar das mudanças, o programa continua sendo o principal mecanismo de transferência de renda do país, atendendo mais de 20 milhões de famílias.
Os desligamentos recentes refletem um objetivo do próprio Bolsa Família: garantir apoio temporário até que as famílias consigam superar a situação de pobreza, com a possibilidade de retorno prioritário caso voltem a enfrentar dificuldades.
Pelo mecanismo de Retorno Garantido, qualquer família que saiu do programa poderá voltar com prioridade se retornar à condição de pobreza dentro de 36 meses.