Os governos do Brasil e dos Estados Unidos confirmaram, em um movimento descrito por diplomatas como “acordo relâmpago”, a realização de uma reunião presencial entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. O encontro está marcado para o próximo domingo (26/10), na Malásia, durante a abertura da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
A confirmação foi obtida após intensas conversas entre as chancelarias dos dois países, concluídas nesta quarta-feira (22). Segundo fontes diplomáticas, o horário do encontro ainda está sendo ajustado devido à diferença de fuso — são 11 horas entre Kuala Lumpur e Brasília —, mas o compromisso está “100% acertado”.
O acerto ocorre pouco mais de duas semanas depois de Lula e Trump conversarem por telefone, em um diálogo considerado positivo por ambos os lados. Na ocasião, o presidente norte-americano afirmou nas redes sociais que discutiu com o brasileiro temas econômicos e comerciais, ressaltando que os países “terão novas discussões e se encontrarão em breve”.
A agenda bilateral vem sendo construída de forma acelerada. Na última quinta-feira (16), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu em Washington com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para definir detalhes do encontro. O foco principal das tratativas é aprofundar as relações econômicas e revisar tarifas de importação aplicadas aos produtos brasileiros.
Entre os temas que devem dominar a conversa estão as exportações de café, carne e etanol, áreas em que o Brasil busca maior acesso ao mercado norte-americano.
Clima diplomático sob atenção
Apesar do avanço diplomático, declarações recentes de Lula geraram preocupação no Itamaraty. Em discursos na Indonésia, o presidente brasileiro mencionou que “intervenções estrangeiras causam mais danos do que resolvem”, em referência indireta à crise na Venezuela, e relembrou que “quando Trump sobretaxou o Brasil, não abaixamos a cabeça”.
Os comentários causaram apreensão entre diplomatas, que agora atuam para garantir um ambiente amistoso na primeira reunião entre os dois líderes. Fontes do governo afirmam que há orientação expressa para evitar temas sensíveis e concentrar a conversa em comércio, energia e cooperação tecnológica.
Lula desembarcou nesta quarta-feira (22) em Jacarta, na Indonésia, no início de uma viagem pela Ásia que inclui compromissos em Jacarta e Kuala Lumpur. O roteiro reforça a intenção do governo brasileiro de diversificar parcerias comerciais e aprofundar laços com o Sudeste Asiático, região que ganha importância no cenário econômico global.
O presidente participará da cúpula da ASEAN e do Encontro de Líderes do Leste Asiático (EAS), fóruns que reúnem as principais economias da região. O Itamaraty destaca que o Brasil mantém, desde 2023, parceria de diálogo setorial com o bloco, e deve apoiar o ingresso do Timor-Leste como 11º membro da associação.
Expectativa para o domingo
Com Trump já preparando viagem à Malásia, a expectativa é de que o encontro simbolize um recomeço nas relações entre Brasil e Estados Unidos, marcadas por oscilações nos últimos anos.
Diplomatas próximos às negociações afirmam que o simples fato de a reunião ter sido confirmada “em tempo recorde” já demonstra boa vontade de ambos os governos em restabelecer um canal direto de diálogo.
A expectativa é que, após o encontro, sejam anunciados grupos de trabalho conjuntos para tratar de comércio, energia limpa e cooperação em inovação tecnológica — áreas que poderão definir o tom da relação entre Lula e Trump nos próximos meses.