O governo brasileiro comprou 20 rifles de precisão fabricados nos Estados Unidos para o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro. O negócio, avaliado em cerca de US$ 150 mil (aproximadamente R$ 850 mil na cotação atual), foi aprovado em maio de 2023 pelo governo de Joe Biden e mantido em sigilo até agora. As armas foram entregues ao Brasil apenas em 2024.
Segundo reportagem da agência Reuters, a venda foi aprovada mesmo após alertas de diplomatas americanos, incluindo a então embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, que expressou preocupação com o histórico de letalidade da unidade. Em documentos internos, Bagley descreveu o Bope como “uma das forças policiais mais notórias do país por mortes de civis”.
O acordo voltou ao centro das atenções depois que o Bope liderou uma operação nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais. Trata-se da operação policial mais letal já registrada no país, segundo dados de organizações de direitos humanos e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Ainda não há confirmação se os rifles comprados dos Estados Unidos foram usados diretamente na ação. Especialistas e grupos de direitos humanos pediram que o governo brasileiro informe com transparência o uso e o controle das armas importadas.
Pressões e alertas diplomáticos
Documentos obtidos pela Reuters revelam que diplomatas americanos tentaram barrar a operação de venda, alegando risco de execuções extrajudiciais e violações de direitos humanos. Mesmo assim, o Departamento de Estado dos EUA deu sinal verde para o negócio, alegando que a cooperação policial com o Brasil era estratégica.
O fornecimento dos rifles foi feito pela empresa Daniel Defense LLC, fabricante norte-americana conhecida por produzir armamentos utilizados por forças de elite e também por civis em diversos estados americanos.
Armas americanas e a violência no Brasil
O episódio traz o debate sobre o fluxo de armas de uso restrito para o Brasil — tanto por vias legais quanto ilegais. Um estudo do Instituto Sou da Paz, divulgado neste ano, analisou quase 7 mil armas apreendidas entre 2019 e 2023 na região Sudeste e mostrou um crescimento de 11,4% nas apreensões de armamentos de uso militar, como fuzis e rifles semiautomáticos.
De acordo com o levantamento, embora a maioria das armas seja de fabricação nacional, os Estados Unidos aparecem em segundo lugar como origem mais comum dos armamentos apreendidos.
Durante o governo de Jair Bolsonaro, o Brasil flexibilizou o acesso de civis a armas de uso restrito, o que, segundo o estudo, facilitou o desvio de armamentos para o mercado ilegal. Com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2023, o Executivo assinou um decreto restringindo novamente o porte e a posse de armas, reduzindo o número permitido e exigindo comprovação de necessidade.
Apesar disso, especialistas alertam que a proliferação de armas pesadas, tanto no crime organizado quanto em forças policiais, aumenta o risco de abusos e letalidade em operações.




