O avanço do desmatamento na Amazônia acende um alerta global: o Brasil pode enfrentar um cenário de desertificação e crise hídrica em poucas décadas caso a floresta continue sendo devastada. Um estudo publicado nesta terça-feira (2) na revista Nature Communications aponta que 75% da redução das chuvas na região está diretamente ligada à perda de árvores.
De acordo com os pesquisadores, desde 1985 os dias mais quentes na Amazônia registraram aumento de 2 °C, sendo 16% desse avanço resultado direto do desmatamento. A floresta, conhecida como “pulmão do planeta”, já deixou de absorver o mesmo volume de carbono e em algumas áreas emite mais gases de efeito estufa do que retém.
As árvores funcionam como verdadeiras “bombas d’água”, puxando umidade do solo e liberando-a na atmosfera. Esse processo é responsável por mais de 40% das chuvas da região. Com menos cobertura vegetal, o ciclo de precipitação enfraquece, sobretudo na estação seca, entre junho e novembro.
O risco de um ciclo de destruição
A queda nas chuvas aumenta a vulnerabilidade a queimadas. Em 2024, mais de 16 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo, e no primeiro semestre de 2025 o desmatamento avançou 27% em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Inpe. O processo cria um círculo vicioso: menos floresta significa menos chuva, que facilita novos incêndios e acelera a degradação.
Impactos além da floresta
Estudos conduzidos por cientistas da Universidade de Princeton e da agência de oceanos e atmosfera dos EUA projetam que, se metade da Amazônia for destruída, a temperatura global pode subir até 2,5 °C e as chuvas caírem até 30%. No Brasil, o impacto seria ainda maior, com riscos diretos para a agricultura e para a geração de energia elétrica, já que 80% da matriz nacional depende de hidrelétricas.
COP30 e pressão internacional
Com a realização da COP30 em Belém, em 2025, a Amazônia será o centro das negociações climáticas globais. O país chega ao encontro sob pressão para reduzir o desmatamento e provar que pode conciliar produção agrícola com preservação ambiental. Para especialistas, a conferência é também uma oportunidade de o Brasil reassumir protagonismo na proteção das florestas tropicais.