Imagens registradas na costa da Colúmbia Britânica, no Canadá, estão intrigando pesquisadores e podem representar o primeiro caso documentado de comportamento semelhante ao uso de ferramentas por lobos selvagens. Câmeras instaladas pela Nação Indígena Haíɫzaqv flagraram uma loba nadando até uma boia, puxando a corda de uma armadilha submarina e arrastando o equipamento até a praia para acessar a isca — peixe destinado à captura do caranguejo-verde invasor.
As gravações foram feitas entre 28 e 30 de maio de 2024, após pescadores notarem que diversas armadilhas estavam sendo misteriosamente danificadas. “Imaginávamos lontras ou pinípedes, até instalarmos câmeras e percebemos que havia seres muito mais inteligentes envolvidos”, relatou William Housty, diretor do departamento de manejo de recursos da comunidade de Bella Bella.
Para os pesquisadores, o comportamento observado exige um nível avançado de cognição. A loba, ao trazer a boia até a margem, parece compreender que ela está conectada a uma corda, que por sua vez leva à armadilha invisível no fundo do mar. Ao puxar cada parte em sequência, ela consegue fazer o equipamento emergir e, então, acessar o alimento.
“É um comportamento extremamente sofisticado”, afirmou o biólogo Kyle Artelle, professor do SUNY College of Environmental Science and Forestry. “Ela resolve o problema exatamente como nós faríamos.”
O estudo, publicado na revista Ecology and Evolution, indica que esta pode ser a primeira vez que um canídeo selvagem é flagrado manipulando um aparato humano para obter comida. Ainda assim, especialistas divergem sobre a classificação do ato: alguns defendem que se trata de “uso de ferramenta”, enquanto outros argumentam que seria apenas “string pulling” — manipulação de elementos já existentes, sem criação ou modificação de objetos.
Comportamento pode estar se espalhando entre o grupo
Além da habilidade individual, pesquisadores acreditam que o comportamento pode estar sendo aprendido coletivamente dentro de um mesmo bando, já que diferentes armadilhas foram encontradas danificadas da mesma maneira.
“Não sabemos como aprenderam, mas acreditamos que seja um único grupo de lobos e que eles observem uns aos outros”, disse Artelle.
As imagens reforçam o crescente corpo de evidências de que populações de “lobos do mar” da região apresentam comportamentos distintos e altamente adaptativos ao ambiente costeiro. E, agora, podem estar mostrando um salto cognitivo que os cientistas não esperavam testemunhar tão cedo.




