O que começou como uma simples brincadeira na madrugada de um desenvolvedor russo com insônia acabou se transformando em um fenômeno global. A música “Capybara”, criada por Alexey Pluzhnikov, de 23 anos, já ultrapassou 9 milhões de visualizações nas plataformas de vídeo e consolidou as capivaras como ícones pop da internet — um posto antes reservado a gatos e cachorros.
Com uma melodia repetitiva e divertida — o refrão se resume à palavra “capybara” cantada várias vezes —, a canção se espalhou pelo TikTok, YouTube e Instagram, impulsionando uma onda de vídeos que mostram os roedores nadando, mastigando, sendo transformados em sushis de brinquedo ou simplesmente encarando a câmera com seu característico olhar sereno.
“Eu fiz a música em casa, em 30 minutos, porque não conseguia dormir”, contou Pluzhnikov à BBC News Brasil. “Fico feliz que ela faça as pessoas rirem.”
O sucesso foi tanto que o compositor foi convidado pelo zoológico de Moscou para participar de um evento com as capivaras locais — e, desde então, virou uma espécie de embaixador informal do animal mais tranquilo do mundo.
Um fenômeno que ultrapassa fronteiras
A febre das capivaras nas redes sociais começou em 2023 e ganhou força em 2024. No Japão, cafés temáticos dedicados a elas — como o Cafe Capyba, em Tóquio — permitem que clientes tomem café enquanto interagem com os animais, tratados como verdadeiros pets. Nos Estados Unidos, há cafeterias e lojas de pelúcia inspiradas nas capivaras, e até em Londres o tema já chegou aos mercados populares de Camden.
No Brasil, país de origem das capivaras, elas viraram símbolos de carisma e tranquilidade. Estão em camisetas, brinquedos, estampas e memes, e sua presença em parques urbanos de cidades como São Paulo, Curitiba e Campo Grande é vista com simpatia — apesar dos alertas de especialistas sobre os cuidados necessários.
“Quando postamos algo sobre capivaras, o engajamento dispara”, comenta Mariana Aidar, fundadora da ONG Capa, que atua com os animais nas margens do rio Pinheiros, em São Paulo. “Elas conquistam todo mundo com o carisma e a calma.”
De “praga” a mascote nacional
Nativas da América do Sul, as capivaras são os maiores roedores do mundo, podendo chegar a 80 centímetros de altura e pesar mais de 60 quilos. Antes vistas apenas como parte da fauna silvestre — e, por vezes, associadas à febre maculosa, transmitida por carrapatos que vivem nelas —, hoje despertam um novo olhar afetivo da população.
“O temperamento dócil e o olhar blasé delas criam uma conexão curiosa com os humanos”, explica o biólogo José Sabino, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. “Elas parecem sempre tranquilas, como se nada as abalasse.”
Sabino acredita que o Brasil poderia até transformar a capivara em símbolo turístico nacional, assim como a Austrália fez com o canguru. “É um animal que está presente em quase todo o país e tem um apelo único. É fácil se apaixonar por uma capivara.”